A MAPFRE Economics prevê uma queda do PIB entre 4,9 e 5,7%, apesar de detectar sinais de reanimação nas principais economias
• Alerta sobre os níveis recordes da dívida pública e corporativa, tanto nos mercados emergentes quanto nos desenvolvidos
Para elaborar as estimativas, e por conta da incerteza persistente, contempla-se, como no trimestre anterior, um cenário base em que se prevê uma recessão de 4,9% em 2020, seguido de uma subida relativamente rápida de 5,4% no ano seguinte, o que permitirá uma recuperação do PIB perdido antes do fim de 2022. E também um cenário estressante em que a recuperação estará incompleta pelo surto e o fim das medidas fiscais. Nesse caso, a recessão seria mais forte, chegando a 5,7%, e continuaria no ano seguinte (-2,2%). “Estes momentos são de distinguir se efetivamente a economia global chegou ao fundo no segundo semestre e se agora, graças à implementação de medidas de política fiscal e monetária, entramos em uma fase gradual de normalização que leve ao o crescimento no início do próximo ano (cenário base)”, explicam os economistas.
O relatório inclui também uma lista de catalisadores que poderiam converter a atual recessão global em uma depressão com efeitos a longo prazo. Por exemplo, destaca-se os níveis recordes da dívida pública e corporativa, tanto nos mercados emergentes como nos desenvolvidos, “o que levanta fragilidades que podem transformar a atual crise de liquidez em uma crise de solvência”. Entre os mercados emergentes, a grande subida do dólar poderá levar as necessidades de financiamento a níveis insustentáveis se a crise se prolongar, dando lugar a defaults seletivos e contrações de mercado, com efeitos sobre a conta-corrente (como a crise no Brasil nos anos 1980 ou a do México nos anos 1990). Nos desenvolvidos, o aumento da dívida pública pode levar a sustentabilidade fiscal ao limite, e os especialistas alertam sobre a vulnerabilidade nos EUA e de alguns países da Europa no segmento da dívida corporativa dos chamados Collateralized Debt Obligations (CDOs).
Para a zona do euro, os economistas da MAPFRE Economics preveem uma contração entre 10 e 11,1% este ano. “Os riscos para a economia da zona do Euro são os de uma recessão mais profunda e duradoura, já que esta crise vai deixar cicatrizes tanto nos empregos quanto na quebra de empresas”, apontam. E eles não acreditam que a demanda e a oferta podem voltar à trajetória anterior à da pandemia (quer dizer, a de 2019) até 2022. “Todos os países da UE terminarão com déficits e dívidas mais altas, e também o setor privado estará mais endividado, por isso será necessária uma gestão cuidadosa para evitar problemas de solvência dos países e no setor financeiro”, advertem. “As economias não podem permitir novos fechamentos totais”, complementam.
A queda do PIB dos Estados Unidos poderia ficar em um intervalo entre 8 e 9,4% (cenário base estressante), mas eles alertam que as projeções estão condicionadas a ausência de novos surtos da pandemia e, caso isso ocorra, será necessária uma nova revisão. Também ressaltam, “A pandemia não está controlada e aparentemente não acabará enquanto não houver medicamentos e vacinas eficazes”. O confinamento provocou um aumento histórico do desemprego, com mais de 20 milhões de pessoas, e muitos negócios vão fechar de forma definitiva. “Estas insolvências se traduzirão em uma maior morosidade bancária, enquanto o nível mais alto de desemprego também terá implicações no volume de créditos ao consumidor e sua morosidade, e também no mercado imobiliário”. Como acontece no resto do mundo, mostram preocupação com as dívidas e estimam um déficit fiscal do governo federal de 15%.
Sobre a China, suas estimativas melhoraram, desde a contração de 0,6% que previam há três meses a um crescimento de 0,8% no cenário central, devido a uma recuperação mais rápida do que a prevista. Persistem, porém, na opinião de MAPFRE Economics, as incertezas sobre o consumo e os investimentos. E a esses pontos somam-se os riscos de uma retomada das tensões entre China e Estados Unidos, desencadeando preocupações geopolíticas.
No caso concreto da economia espanhola, o Serviço de Estudos reduziu de forma considerável sua faixa de estimativas e prevê uma queda entre 12,1 e 13,1% este ano. E complementam agora que não descartam que a recessão se mantenha durante o próximo exercício em um cenário estressante, com uma redução de 1,2%. Precisamente, como apontam os especialistas da MAPFRE Economics, “Os riscos para a economia estão centrados agora na recuperação da atividade”, porque a volta à normalidade está acontecendo de forma gradual, afetando principalmente o turismo e o lazer. Tudo isso tem implicações sobre suas perspectivas no mercado de trabalho. Como apontam em suas análises, ainda não se sabe a porcentagem de trabalhadores em ERTE (expediente de regulação de emprego) que poderão voltar aos seus postos de trabalho. “Na economia espanhola, o turismo, a hotelaria e os restaurantes têm um peso grande e, com certeza, estes setores vão demorar a voltar ao nível de atividade anterior, afetando os empregos”. Esse cenário leva à previsão de uma taxa de desemprego de 17,2% este ano, mas poderia superar os 20% em 2021.
Por outro lado, no mundo emergente dos fluxos de investimentos mais voláteis voltam a cobrir, pelo menos de maneira parcial, as necessidades de financiamento da América Latina e Europa emergente, o que levará a uma estabilização de suas moedas. Este reajuste dos fluxos de capital dificilmente levará essas economias à situação anterior à Covid-19; o saldo final vai influenciar os fundamentos macroeconômicos de cada país e, em boa parte, a extensão do comprometimento que a pandemia gerou na estrutura econômica. Para o México, por exemplo, a equipe da MAPFRE Economics espera uma queda de pelo menos 10,5% do PIB. “A economia mexicana enfrenta um risco talvez maior do que outros países, já que suas receitas fiscais dependem muito dos rendimentos do petróleo e há pouca margem para estímulos fiscais. E por não conseguir sustentar a receita fiscal e/ou aumentar substancialmente seu nível de dívida, as agências de classificação poderiam tirar o status de ‘grau de investimento’ que ainda mantêm”, indicam. No caso do Brasil, a queda ficará em torno de 8,9% este ano. Além disso, apontam o risco de instabilidade política, com a falta de consenso entre o presidente e os governadores dos estados e outros políticos sobre como enfrentar a pandemia. “O risco de descontrole da pandemia também é alto, já que ainda estão na curva ascendente de contágios. Quando acabar essa situação de excepcionalidade, o Brasil deverá retomar a agenda de reformas estruturais ainda pendentes”, explicam os economistas.
Impacto no setor de seguros
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