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SUSTENTABILIDADE| 07.07.2021

V edição das Conversas de Liderança

“A ciência tem que sentar para conversar com os investidores: ela é o mercado e o futuro”

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A V edição das Conversas de Liderança sobre Mulheres, Ciência e Saúde reuniu María Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS; Rosa Menéndez, presidente do CSIC, e Patricia Fernández de Lis, jornalista e divulgadora científica; e foi moderada por Francisco J. Marco, conselheiro, Diretor Geral de Suporte para Negócios da MAPFRE e médico de formação.
 

No início do evento, Marco salientou que a MAPFRE concentrou-se em aliviar os efeitos da pandemia, destinando mais de 45 milhões de euros para ajudar milhões de pessoas no mundo, e também apontou o total compromisso da empresa com a promoção de talentos.

Estas são algumas mensagens que Neira, Diretora de Saúde Pública e Meio Ambiente da OMS; Rosa Menéndez, presidente do CSIC; e Patricia Fernández de Lis, jornalista, divulgadora científica e fundadora da Materia, compartilharam durante o evento.

 

1. Trajetórias e desigualdade de gênero

Os primeiros depoimentos focaram em suas respectivas trajetórias profissionais e dificuldades encontradas.

María Neira: “Temos que saber como tirar o melhor das bifurcações que aparecem na estrada da vida.” Ela admitiu que sua trajetória é fruto de “circunstâncias, porque você toma decisões. Nada substitui uma mente aberta a alternativas, a não se fechar. (…) Você vai aceitando certos desafios nos quais não tinha pensado. Nas Nações Unidas, você é mais privilegiada, porque se dá muita importância à diminuição das desigualdades. Na África, Ásia e América Latina, tenho visto dificuldades enormes, trabalhei em mundos muito masculinos, onde as meninas não tinham as oportunidades que eu tive. Quando falo com as mulheres, digo: não aceite que ninguém lhe diga até onde você pode chegar. Você pode fazer tudo. Quando se fala de liderança, ainda falta um longo caminho.”

Rosa Menéndez: “Muitas coisas que eu fiz não foram planejadas; trabalhei muito, com a mente aberta. Fui uma das primeiras médicas que foi para a Inglaterra. Isso ajudou a reduzir a humildade: na Espanha, não éramos menos inteligentes, isso serviu para que eu valorizasse o que eu tinha. Me deu uma segurança enorme. Não senti nenhuma discriminação pelo fato de ser mulher, mas tenho de admitir que consegui trabalhar na Comissão [presidiu a Associação Europeia de Materiais de Carbono] graças às cotas. Eu trabalhava uma semana fora da Espanha e, se dissesse que tinha dois filhos, pensavam: deve ser divorciada. (…) Eu aproveitei todo que eu fiz. As dificuldades são esquecidas.”

Patricia F. de Lis: “O jornalismo tem uma presença feminina muito grande, não encontrei muitos problemas. Mas, desde o início, o meu foco era o jornalismo tecnológico, econômico e científico. (…) Não estou indo direto ao ponto: eu tive problemas por ser mulher. Mas vejo uma mudança. Cada vez mais, falo com mais mulheres, entrevisto mais mulheres. Às vezes, temos experiências em que nos subestimamos, colocamos obstáculos em nossas próprias carreiras. Às vezes, as barreiras são autoimpostas.”

 

2. Gestão da pandemia e o fator humano

Patricia: “Foi o pior ano da minha vida. Tivemos que fazer um jornal on-line, remotamente, com informações complexas, sempre em mudança e assustadoras… mas os jornais não querem incerteza. Tivemos muito poucas certezas, foi um ano extraordinariamente complexo. Na ciência, trabalhamos com artigos, inicialmente recebíamos os estudos originais, e era difícil traduzi-los para os leitores. O CSIC e a OMS nos ajudaram muito.”

Rosa: “Tivemos desafios, como coordenar 120 centros, trabalho remoto, o mais alto rigor em questões de segurança. O esforço foi devido ao coronavírus. Reagimos em uma semana. Entramos em contato com virologistas como Luis Enjuanes e Mariano Esteban, para que eles compartilhassem sua experiência da forma mais rápida possível dentro de uma plataforma global de saúde, coordenada por Margarita del Val. Pegamos produtos no mercado, analisamos a presença do vírus no ar, na água, o sequenciamento genético… esse nível de esforço não pode ser mantido, porque humanamente você não resiste.”

María: “Compartilho o sentimento pessoal, a responsabilidade, os olhos vermelhos pelo cansaço, o sentimento de desamparo.Você não pode imaginar como era na OMS, que se tornou um centro de operações, mas tem uma equipe muito forte à frente da área de Emergências.Eu tinha três obsessões: proporção, equilíbrio e contexto.(…) Na OMS, temos um grande poder de atratividade, podemos trabalhar com os melhores.Agradeço a generosidade intelectual e humana do CSIC e dos centros nacionais em todo o mundo.Para quantos cientistas ligamos às 3:00 da madrugada, 9:00 em Genebra?Eles não deram desculpas em nenhum momento.Agora temos que concentrar a nossa atenção no fator humano.”

 

 

3. Distribuição desigual de vacinas, com a América Latina no centro

Rosa: “No CSIC, estamos falando com a OMS para disponibilizar algumas das nossas vacinas [uma entra na fase clínica neste mês, e existem quatro outros projetos]. Pensamos sempre na África e na América Latina, que, pela proximidade histórica e nesta situação, não podemos deixar desse jeito.”

María: “Quanto mais tempo levarmos, mais sentimos falta da tecnologia necessária. A comunidade científica está se associando. (…) Não podemos aprender lições como se a próxima pandemia fosse ser como esta. Precisamos ter uma plataforma ampla, para antecipar qualquer tipo de situação viral, que o cientista saia do papel que atribui a si mesmo.”

 

4. Veracidade, jornalismo e luta contra a desinformação (fake news)

Patricia: “Vimos o melhor e o pior do ser humano. Esse desprendimento, esse trabalho e essa paz de espírito dos que estão vacinados. Vimos coisas maravilhosas. Fico surpresa de que haja vacinas para nós em países ricos e que a paz de espírito não tenha sido alcançada em outros países, como na América Latina ou na África. Houve um momento de grande confusão em que os líderes políticos e econômicos contribuíram para a difusão de fake news. (…) É essencial que haja uma colaboração estreita entre ciência, jornalistas, e gestores de saúde. A única maneira de combater as notícias falsas é colaborar, não nos isolar novamente.”

Rosa: “Como lutar contra as notícias falsas, que pode ter efeitos contraproducentes? Com bons profissionais. O que não for verdadeiro deve ser desmentido.”

 

5. Conclusões

Em relação à situação da ciência espanhola na esfera internacional, Rosa Menéndez salientou que “a Espanha é conhecida, reconhecida e está bem posicionada”.

María Neira: “Temos que acreditar um pouco mais como espanhóis. Às vezes, os franceses tentam me enganar, com o seu queijo Caprice des Dieux (capricho dos deuses, e soa tão diferente), do queijo asturiano Afuega’l Pitu (que pode ser traduzido como ‘afogar o frango’).”

Eles também abordaram a necessidade de as empresas investirem mais na ciência e na promoção da colaboração público-privada.

Rosa Menéndez: “Muitos resultados são perdidos, muitos recursos.Se alguém estivesse disposto a investir para sair da fase de protótipo, o resultado seria melhor.É por isso que se ouve tudo isso sobre a MAPFRE…A ciência é a indústria do futuro.(…) O CISC é o órgão que fez a maior parte das patentes no ano passado (mais de 100), mas nos falta esse impulso.”

Sobre como promover melhor a ciência, María Neira recomendou “colocar os investidores para conversar com os cientistas a cada 3 meses. A ciência é o mercado e o futuro. Vamos nos recuperar, ficar no verde e no positivo.”

Patricia Fernández: “Espero que tenhamos aprendido a lição. A ciência salva vidas, nos proporciona um futuro. Anos atrás, não sabíamos que existia, e hoje a maioria está vacinada. Não sei se temos noção do que aconteceu, de como somos privilegiados.”

Rosa Menéndez: “E também aposte na educação. Ela é muito importante, como a cultura. Uma sociedade com boa educação tem a capacidade de discernir. Este país precisa de mais cultura científica. Aí entram as mulheres.”

 

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