SUSTENTABILIDADE| 19.05.2023
Não é apenas a mobilidade que precisamos repensar
Jesús Monclús
Diretor da Área de Prevenção e Segurança Viária da Fundación MAPFRE
Com sua campanha “Repensando a Mobilidade”, a Colaboração para a Segurança Viária das Nações Unidas (em inglês, United Nations Road Safety Collaboration ou URNSC) está ampliando este ano seu foco habitual sobre a segurança viária para dar maior destaque à sustentabilidade global de nossos deslocamentos diários.
Globalmente, os sinistros de trânsito acabam com a vida de mais crianças e jovens entre 5 e 29 anos do que qualquer outra causa de morte. E a mensagem subjacente da ONU e da OMS é que ou mudamos substancialmente o alcance das medidas para o uso (por exemplo, melhores veículos e infraestruturas, mais formação, educação e conscientização, dados mais confiáveis apoiados na pesquisa, etc.) ou não atingiremos nem os objetivos de redução de sinistralidade previstos até 2030 nem o resto dos objetivos relacionados à Agenda 2030, como cidades mais seguras e sustentáveis, redução do consumo energético, luta contra a mudança climática, etc.
Neste ponto, acredito que todos concordaremos que, sempre que possível, é melhor (mais saudável, econômico e ecológico) andar a pé ou de bicicleta do que de carro ou moto particular. Ou que o transporte público deve se tornar uma prioridade em relação com a mobilidade motorizada individual, pois o primeiro permite o deslocamento de um maior número de cidadãos com menor custo e menor pegada ambiental. Além disso, lembremos que abordagem da ONU/OMS é, e deve ser, global e que para a grande maioria dos habitantes deste planeta não resulta nem econômico nem factível o deslocamento com modernos veículos de baixo ou nulo impacto ambiental e inúmeras medidas de segurança.
Através da Fundación MAPFRE, este ano todos devemos nos unir a este momento de reflexão e de “ativismo em movimento”. Como em oportunidades anteriores (a Semana Mundial da Segurança das Nações Unidas é realizada a cada dois anos), estaremos apoiando às Nações Unidas e à Organização Mundial da Saúde na difusão das mensagens desta campanha nas redes sociais e nos 20 países nos quais atualmente trabalhamos, com o objetivo de alcançar o mais rápido possível uma mobilidade 100% segura, saudável e sustentável. Além disso, nas próximas semanas lançaremos nossos novos módulos de capacitação online para trabalhadores que estão focados precisamente na escolha segura, saudável e sustentável do modo como nos deslocamos e nas principais medidas de segurança em cada um desses modos.
As mensagens das Nações Unidas nesta campanha são claras: é imperativo que os governos e seus aliados repensem a mobilidade e as iniciativas para reimaginar a mobilidade no mundo, que devem ser articuladas em torno da segurança. Para garantir a segurança, todas as redes viárias devem ser projetadas tendo em mente a segurança das pessoas de maior risco. Neste contexto, andar a pé e de bicicleta, se feito em condições de segurança, contribui para aumentar a saúde das pessoas, a sustentabilidade das cidades e a equidade das sociedades. Finalmente, a solução para muitos dos males da sociedade é um transporte público seguro, econômico, acessível e sustentável.
No entanto, e vou finalizar com esta reflexão, estaríamos cometendo um grave erro se não olharmos ainda mais de perto e refletirmos sobre nosso modo de vida em geral. O transporte é responsável por cerca de 30 porcento do consumo energético e das emissões poluentes ou de efeito estufa: nem sequer estamos falando da metade do “problema”. Precisamos repensar a maneira como vivemos como um todo (a forma em que aquecemos nossos lares, nossa alimentação, o consumo, etc.) ou, em resumo, o modo como nos relacionamos com o planeta que nos hospeda e dá vida. Estamos acostumados com o termo “emergência” e esquecemos que essa palavra significa “situação de perigo ou desastre que requer de uma ação imediata, porque existe um claro risco para a vida”: vamos repensar e mudar o que precisa ser mudado.
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