CLIMA | 18.02.2020
Manuel Toharia: “O alarme não funciona, mas o alerta se adapta a uma realidade que é mais prejudicial para nós”
A MAPFRE Global Risks entrevistou Manuel Toharia, especialista em divulgação científica, meteorologia, mudanças climáticas e ex-diretor científico do complexo da Cidade das Artes e das Ciências de Valência.
“Há um aquecimento causado por humanos, mas não é global”
A visão de Manuel Toharia sobre as mudanças climáticas acrescenta nuances importantes. Ele afirma que não há relação entre mudanças climáticas e ciclones tropicais que ocorreram nos últimos anos. Além disso, ele argumenta que, com base nos dados históricos disponíveis, não apenas não houve um aumento no número total de tais fenômenos, mas sua intensidade também não aumentou.
Quanto ao aquecimento global, Toharia também tem uma opinião muito clara: para ele existe um aquecimento, mas natural, ao qual se sobrepõe um aquecimento antropogênico, isto é, derivado da mão do ser humano, todavia que dificilmente podemos afirmar como um aquecimento global.
“Os satélites nos fornecem dados globais por apenas 39 anos. Nós não tínhamos isso antes, então não podemos ter certeza de que esses dados são representativos”, explica Toharia.
Segundo suas reflexões, a preocupação se baseia no fato de possuirmos muito mais ativos do que costumávamos e, portanto, temos muito mais a perder. “Mesmo que não haja mais catástrofes ou coisas piores do que antes, o dano será progressivamente maior porque cada vez somos e temos mais coisas. As perdas econômicas vão aumentar”, explica.
“É um pouco soberbo prever o que acontecerá em 50 anos”
“É importante alertar, mas não alarmar. É necessário agir em uma situação que hoje pode ser economicamente mais prejudicial”, afirma o especialista.
Toharia também é franco em termos de previsões e modelos matemáticos usados: “eles não são muito confiáveis, embora, por enquanto, sejam os melhores que temos”, diz ele.
Como ele explica, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, conhecido pelo acrônimo em inglês IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), não faz previsões, faz cálculos de tendências, com as quais é estimada uma margem de incerteza.
Por conta disso tudo, Toharia acredita que ousar prever o clima do planeta por 50 anos é arriscado.