MAPFRE
Madrid 2,414 EUR -0,01 (-0,58 %)
Madrid 2,414 EUR -0,01 (-0,58 %)

SUSTENTABILIDADE 25.01.2021

Finanças sustentáveis: a combinação vencedora para a descarbonização

ethic

Ethiclab

Francisco J. Garayoa, diretor da Spainsinf: “Não é uma questão de moda: investir de forma não sustentável já envolve muitos riscos”

Os Objetivos de Desenvolvimento sustentável (ODS) influenciam cada vez mais a atividade financeira, dando muito mais ênfase ao que é conhecido como “finanças sustentáveis”. Agora, os investidores concentram-se mais nas empresas que se preocupam com o meio ambiente. Princípios ASG, títulos verdes, finanças inclusivas etc.: enquanto consumidores, é importante saber o que são todos esses conceitos para podermos exigir produtos mais sustentáveis que nos levem a uma economia mais justa, para o meio ambiente e para nós mesmos. Conversamos com Francisco J. Garayoa, diretor da Spainsinf, a associação de investimentos sustentáveis da Espanha, para conhecer todos os detalhes.

Como explicar o conceito de finanças sustentáveis a alguém que nunca ouviu falar disso?

É investir com critérios sustentáveis, tendo em conta o nível de preocupação das empresas em relação ao meio ambiente, aos aspectos sociais e à boa governança. Os fundos de investimento procuram aqueles que estão alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento sustentável (ODS) e a Agenda 2030, e que têm suas próprias políticas de desenvolvimento ambiental, redução de emissões, alternativas em respeito ao meio ambiente, políticas de consumo interno…

Também investem em títulos verdes, dívida pública ou privada destinada a projetos de desenvolvimento verde, transformação de empresas ou outras ações que beneficiem o ambiente.

E quem são os investidores sustentáveis?

GARAYOA

Embora na Espanha a maioria sejam grandes investidores institucionais, todos os cidadãos também podem ser. Qualquer investidor, pequeno ou médio, pode solicitar um produto sustentável, embora seja verdade que, nesse caso, os mais relevantes são os planos de aposentadoria profissionais, as seguradoras ou grandes fundos de investimento com critérios de sustentabilidade. Em suma, os investidores sustentáveis são aqueles que procuram maximizar o lucro com critérios alinhados com o respeito ao meio ambiente.

Quando que esse tipo de investimento se tornou tão importante?

Nos últimos anos, esses investimentos tiveram um crescimento exponencial porque se verificou que, para além de gerar um impacto positivo no ambiente e na sociedade, é muito mais rentável investir nessas empresas do que em outras com objetivos opostos. A sustentabilidade está ligada a um melhor retorno financeiro (a porcentagem de lucros ou perdas para cada euro investido).

Há dez anos, as empresas sustentáveis não tinham uma representatividade muito grande. Falou-se muito em investir de forma sustentável, mas não estava claro se isso era arriscado.

Por isso, não é uma questão pontual, mas algo que veio para ficar…

Nós, da Spainsinf, estamos concentrados em promover esse tipo de investimento. Verificamos que, em 2009, havia 35 milhões de ativos gerenciados de forma sustentável, mas dez anos mais tarde, o valor havia subido para 235 bilhões. Não é uma questão de moda: investir de forma não sustentável é ter uma grande penalização do ponto de vista dos riscos e do reconhecimento social. E isso se traduz em menos lucros.

Quais os critérios para distinguir as empresas sustentáveis?

São os critérios ambientais, sociais e de governança (ASG). São analisados indicadores baseados nesses aspectos para qualificar e comparar as informações financeiras das empresas. Existem muitos indicadores diferentes que, além disso, variam entre os setores. É por isso que a Comissão Europeia, em 2018, publicou duas diretivas para fazer avançar, nos próximos três anos, o Plano de Finanças Sustentáveis e para obter uma linguagem comum que ajude os investidores, as empresas e também a sociedade.

É importante que a sociedade seja educada financeiramente? A última pesquisa da CNMC mostrou que grande parte da população espanhola não estava familiarizada com conceitos financeiros relativamente simples.

O que é muito necessário. Se você não souber o que é uma conta poupança, uma conta-corrente ou um empréstimo de juros fixos, não poderá avaliar suas escolhas. Além disso, se você tiver ideais pessoais relacionados à sustentabilidade – respeitar o meio ambiente, reciclar, consumir o que é justo etc. – e deseja aplicá-los, por exemplo, aos produtos bancários contratados, você precisará de certo nível de treinamento para dizer: “Olhe, tenho uma conta neste banco e quero fazer um plano de investimento, mas quero que ele seja sustentável”.

Isso fará as empresas a trabalharem para oferecer produtos cada vez mais sustentáveis…

A educação financeira é fundamental para que haja uma procura. Na França, por exemplo, isso é extremamente importante porque lá se trabalham esses aspectos desde criança. Na Espanha, ainda temos um longo caminho a percorrer, e essa é uma das linhas de trabalho da Spainsinf: há três anos, começamos o programa Back to School, em que nossos colaboradores vão para as escolas onde estudaram e explicam às crianças o que é o investimento sustentável.

Trabalhamos também com escolas financeiras e universidades, oferecendo aulas gratuitas e abertas ministradas por nossos parceiros e, além disso, temos um guia de investimento sustentável, em que explicamos tudo muito descomplicado para facilitar os temas ao consumidor.

Será que uma educação financeira reforçada poderá ajudar um país a enfrentar crises económicas?

Com certeza. Todos consideram que um nível mais elevado de educação permitirá enfrentar uma crise ainda mais grave, entretanto, tudo depende do tipo. O que se deve ter em mente é uma maior capacidade para distinguir quais as soluções mais acertadas e naquilo que se pode contribuir.

Os ODS também se concentram na erradicação da pobreza para alcançar uma sociedade mais justa, o que levará a uma economia mais igualitária. O que são finanças inclusivas?

As finanças inclusivas buscam promover a educação financeira e a inclusão nos serviços financeiros para aquelas pessoas com menos recursos, para que possam sair do limiar da pobreza. O seu objetivo é investir em projetos que canalizem recursos para iniciativas de inclusão em países em desenvolvimento. Este conceito está muito mais implantado na América Latina do que na Espanha, embora nos países desenvolvidos seja aplicado com objetivo nos aspectos sociais, como a integração das mulheres no mercado de trabalho, a conciliação ou as reformas laborais.

Digamos que as finanças inclusivas também entrariam em serviços como os microsseguros, que protegem as pessoas com menos recursos por um preço proporcional ao seu nível de rendimentos.

Estão ligadas à inclusão financeira. Um microsseguro não é um “pequeno seguro”, mas sim, algo que busca cobrir iniciativas de empreendedorismo para que não sejam levadas a cabo por situações de risco resultantes de sua vulnerabilidade. Um artesão, por exemplo, precisa de um mínimo de cobertura para desenvolver sua atividade e o microsseguro, por um pequeno valor, ajuda-o a proteger sua presença financeira.

Novamente, isto está mais presente na América Latina do que na Espanha. Aqui ainda estão pouco desenvolvidos, embora seja verdade que existem entidades que oferecem microcréditos para ajudar nessa inclusão.

E de que forma podem beneficiar a economia?

A cobertura dos riscos a essa vulnerabilidade ajuda a reforçar as iniciativas de empreendedorismo.

Parece que, no final, uma economia melhor pode nascer mais da igualdade do que do crescimento empresarial às custas de muitos…

O investimento sem limites e a rentabilidade vertiginosa a curto prazo dificilmente são sustentáveis, tanto do ponto de vista econômico como ambiental e social. No entanto, embora tenhamos plantado a semente, ainda há muito caminho pela frente: haverá especuladores e investidores em busca de uma bolada e que não se preocupam com o meio ambiente. É por isso que de educar e treinar, e também temos incutir os valores das finanças sustentáveis das pessoas para os estados.