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SUSTENTABILIDADE| 26.03.2021

Enedina González: “As empresas querem se pronunciar, dar voz aos problemas sociais e fazer algo para evitá-los”

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Há mais de uma década, esta arquiteta venezuelana de 39 anos organiza eventos corporativos e experiências baseadas em energia verde, zero desperdício e baixo impacto ambiental. Ela faz tudo isso por meio da For Planet, uma pequena empresa especializada em eventos sustentáveis, criada em 2019 com o objetivo de contribuir para um mundo melhor.

2020 foi um ano difícil para Enedina González. Nesta mesma época, há exatamente um ano, ela viu em um único dia todos os eventos empresariais, feiras e congressos que estava organizando serem cancelados. Foi então que ela se lembrou do que o seu avô havia lhe dito. “Em tempos difíceis, você tem duas opções: chorar ou vender lenços.” E, complementando este último, empreender e detectar oportunidades, precisamente ao que ela tem se dedicado nos últimos meses. Além disso, a implementar hábitos mais sustentáveis no seu dia a dia, cuidar mais de sua alimentação e deixar de consumir carne.

Como uma arquiteta chegou ao mundo da sustentabilidade?

Como estudante de arquitetura, sempre tive interesse em construções sustentáveis. Eu ainda me lembro de como fiquei impressionada com um curso para aprender a construir com estruturas de bambu. Um arquiteto sabe que os melhores materiais são os locais, os nativos, aqueles você pode obter ao seu redor e que já estão adaptados às condições do lugar de origem. Penso que a arquitetura não deve ser invasiva, deve ser adaptada ao seu contexto para gerar o menor impacto possível e encontrar um equilíbrio com o seu ambiente. Devemos pensar assim em todas as áreas da nossa vida.

Como você definiria um evento sustentável?

São aqueles encontros com um impacto triplo (People, Profit e Planet), responsáveis, tanto com o ambiente quanto com as pessoas, que permitem fazer um esforço para minimizar qualquer impacto potencial e que deixam um legado que beneficia a comunidade anfitriã e todos os envolvidos. Gostaria também de salientar uma palavra-chave, o propósito, porque nesse tipo de evento precisamos levar em consideração o que queremos alcançar e qual estratégia queremos utilizar para avançar, para deixar uma marca e para sermos mais conscientes da importância de proteger nosso ambiente.

O que você acha que motiva os clientes a apostar nesse tipo de encontro?

Sem dúvida, a possibilidade de contribuir para um mundo melhor, demonstrar que seus objetivos de negócio devem estar alinhados com um impacto social e ambiental positivo e ser coerente com seus valores. Hoje, as empresas querem se pronunciar, dar voz aos problemas sociais e fazer algo para evitá-los, demonstrar que o valor que podem contribuir para a sociedade é muito alto. Mais do que nunca, o binômio rentabilidade e propósito é inseparável em muitas empresas. Acredito que um evento sustentável é uma excelente ocasião para colocar na mesa todos estes valores, ou seja, tratar os fornecedores como verdadeiros parceiros na criação de valor, para cuidar das pessoas com respeito e dignidade, e para reduzir a utilização de recursos.

 

“Mais do que nunca, o binômio rentabilidade e propósito é inseparável em muitas empresas”.

Como você iniciou neste setor?

Tudo começou quando eu tinha uns 7 anos e meus pais me levaram ao Museu das Crianças de Caracas, minha cidade natal, onde participei de uma oficina de papel reciclado, da qual nunca vou me esquecer. Anos mais tarde, criei minha própria empresa dedicada à organização de casamentos e eventos corporativos. Um dia, eu observei três caminhões cheios de lixo saindo do hotel onde eu tinha montado dois eventos ao mesmo tempo. Eu me senti tão mal com aquilo que me comprometi a fazer algo a respeito. Então comecei a projetar móveis para exterior feitos com lixo industrial, como barris de metal, pneus de caminhões e caixas de embalagens, entre outros.

E quais foram os seus primeiros eventos sustentáveis?

Eles estavam focados em reduzir ou eliminar os resíduos, bem como em utilizar produtos e fornecedores locais. O primeiro evento que organizei baseado nestes princípios foi um encontro de moda sustentável, e foi um sucesso.

Na sua opinião, quais são as demais vantagens, além da preservação do meio ambiente, para uma empresa ou uma pessoa que organiza eventos de caráter sustentável?

Com efeito, esse tipo de evento vai além da proteção do meio ambiente. Eles permitem apoiar o comércio local, criar parcerias com empresas com os mesmos valores e gerar engagement com os participantes. São absolutamente inspiradores e transmitem a mensagem de que todos nós podemos transformar o mundo. E isso ou tem um preço.

“As pessoas estão cada vez mais informadas. Acredito que as novas gerações levam a sustentabilidade em seu DNA”.

Você acredita que existe uma maior demanda global por esse tipo de evento? Que países ou setores são os mais comprometidos?

Existe sim. As pessoas estão cada vez mais informadas sobre o que é ser sustentável, o que é bom para o planeta e o que não é. Penso que as novas gerações têm a sustentabilidade no seu DNA e que as empresas sabem disso, motivo pelo qual promovem e implantam a sustentabilidade em muitos de seus processos. Os eventos sustentáveis são um veículo fundamental para transmitir a mensagem, e acredito que a Alemanha e a França estão muito à frente.

Vamos supor que já estamos todos vacinados e que, para celebrar o acontecimento, organizamos uma festa com mais de 50 amigos. Que aspectos vocês vão levar em consideração?

Antes de tudo, seria uma festa de agradecimento, por aquilo que foi vivido e aprendido, mas também para mostrar que as celebrações não podem ser feitas como anteriormente. Penso que precisamos avançar, por isso seria claramente um evento onde os resíduos são geridos e onde não ocorrem praticamente desperdícios, onde são oferecidos produtos orgânicos, locais e da estação, e onde são fornecidas aos assistentes opções de transporte limpo, que ajudem a reduzir a pegada de carbono.

Qual o papel das grandes empresas na preservação e no cuidado com o meio ambiente?

As grandes empresas podem fazer mudanças muito pequenas, mas que significam muito para o meio ambiente. Elas também têm muito poder de comunicação e permitem servir de exemplo aos seus grupos de interesse, começando pelos seus funcionários.

Como você cuida do meio ambiente no seu dia a dia?

Sou um pouco radical porque não consumo mais como produtos provenientes de animais, exceto ovos ecológicos. Faço muitas pequenas ações no meu dia a dia, que, somadas, têm um impacto real. Entre elas, elaboro os meus próprios produtos de limpeza, utilizo produtos de beleza naturais em embalagens reutilizáveis ou recicláveis e compro alimentos sem embalagens, principalmente ecológicos e em mercados locais. Também tento não comprar mais do que realmente preciso, calculo e compenso minha pegada de carbono plantando árvores, e eu faço presentes que tenham algum componente sustentável. Minha filosofia é: reduzir e reutilizar o máximo possível.