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SUSTENTABILIDADE| 04.11.2022

“Há muita diversidade entre as pessoas de mais de 55, talvez mais que entre os jovens”

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Depois de três décadas de uma bem-sucedida carreira profissional no campo jurídico, Julia Randell-Khan dedica agora sua vida profissional a promover e defender o talento das pessoas idosas, as quais acredita que injustamente esquecemos com frequência. Como empreendedora no campo da longevidade, cofundou em 2021 The Purpose Xchange, é sócia consultora do Stanford Centre for Longevity e seu projeto do Novo Mapa da Vida, e senior fellow da ONG norte-americana CoGenerate.org. Foi uma das convidadas para a conferência sobre saúde e envelhecimento organizada em Madri pela MAPFRE e a Associação de Genebra, o agrupamento global das seguradoras.

JULIAN RANDELLNesta entrevista, Randell-Khan defende uma nova imagem coletiva do envelhecimento e leva em conta o peso da experiência. Rejeita a visão simplista que se tem com frequência dos idosos, entre os quais há ao menos tanta diversidade como entre os jovens, e convida aos que estão aposentados ou perto de se aposentar a encontrar um propósito em sua vida, em uma etapa em que ter um impacto positivo nos outros transforma-se para muitos em uma prioridade, o que os faz especialmente valiosos. E é que, conforme lembra, os estudos a respeito mostram que os que estão socialmente comprometidos vivem mais e com melhor saúde.

 

Acha que temos atitudes negativas em relação ao envelhecimento e às pessoas idosas? É necessária uma mudança neste sentido?

Precisamos de uma mudança de atitude, porque temos uma visão do aumento da longevidade como de um “tsunami cinza”, o qual vai ser mau para a economia. Mas na realidade, se você olha todo o talento, a sabedoria e a contribuição que uma pessoa idosa pode fazer para a mudança social, para o mundo do trabalho, pode fazer uma enorme diferença.

E há uma tendência de ver os idosos como um bloco, uma coisa que já não faz sentido. “Há muita diversidade entre as pessoas de mais de 55, talvez mais que entre as gerações mais jovens” Por isso precisamos chamar a atenção a qualquer um que fale do “tsunami cinza” e o efeito negativo do aumento da esperança de vida, porque isso já não é verdade.

As empresas e as instituições deveriam aproveitar melhor o talento sênior?

Sim, especialmente agora que existe tanta escassez de talento em múltiplos setores, desde a engenharia até a saúde. Temos de devolver a vista aos trabalhadores idosos e o valor que podem proporcionar e encontrar maneiras criativas de reter essas habilidades em uma empresa, por exemplo dando a opção de regimes de trabalho mais flexíveis ou de aposentadoria progressiva, que seriam bons para todo o mundo e ajudariam os trabalhadores idosos a adotar diferentes responsabilidades, oferecendo-lhes oportunidades de permanecer vinculados ao trabalho de diferentes formas.

Devemos ter em conta também o valor de um equipamento multigeracional. Os estudos mostram que uma equipe multigeracional é muito mais produtiva, porque você conta com a experiência de toda uma vida das pessoas idosas, das decisões difíceis que tomaram, sua habilidade de analisar temas complexos, e os jovens realmente aprendem com isso. Há uma sabedoria coletiva que emerge de uma equipe multigeracional, o que é enormemente valioso, e isso é por que uma empresa que não retém seus trabalhadores maiores de uma maneira criativa e promove um modelo multigeracional estará em desvantagem.

Recentemente cofundou “The Purpose Xchange”, uma iniciativa para ajudar às pessoas perto da aposentadoria ou recém aposentadas a encontrar um propósito profissional e vital. Pode explicar este conceito de propósito? Por que é tão importante nessa etapa da vida?

Os estudos mostram que quando as pessoas aos 50, começam a achar prioritário fazer um pouco mais além deles mesmos, o desejo de contribuir ao bem comum, à sociedade, torna-se muito mais importante. As pessoas procuram um significado e um propósito no que fazem. The Purpose Xchange está concebido para facilitar para as pessoas que pensem em que é importante para eles à medida que faz aniversário, que mudanças eles gostariam de fazer em seu trabalho e em sua vida, que imaginem como poderia ser seu futuro. Leva tempo, não se pode fazer da noite para o dia, mas é muito importante para conseguir uma vida mais longa e saudável.

Que desafios temos adiante quanto à relação entre gerações?

Nos meios de comunicação, fala-se muito de “conflito entre gerações” e é uma expressão horrível, não acredito que exista algo assim. Jornalistas e políticos às vezes falam de uma sorte de guerra cultural, de desigualdades entre gerações, quando na realidade as diferentes gerações buscam o mesmo. Todo o mundo quer ser valorizado, ter formação, que se invista em seu desenvolvimento, ter boas condições de trabalho… O debate intergeracional é bom, mas reconhecendo o valor de todas as vozes.

Em sua intervenção falou-se da importância dos fatores socioeconômicos. Estas desigualdades afetam a maneira em que se vive o aumento da longevidade?

Sim, e temos que abordar estas desigualdades, têm de ser parte da agenda de saúde pública. Temos de dar incentivos para que as empresas ofereçam a seus trabalhadores ajudas em questões de saúde, finanças, economias, educação… E não deixá-los sozinhos a nível individual, mas assumir a responsabilidade e apoiá-los ao longo de sua vida profissional. Achar formas de abordar os problemas de desigualdade, em terrenos como a saúde, vai ser crítico para ter uma sociedade mais justa. Atualmente temos esperanças de vida muito diferentes mesmo dentro de um mesmo país, e isso não é aceitável.

O aumento da longevidade também pode ser uma oportunidade econômica?

Para mim é indubitavelmente uma oportunidade, mas requer uma mudança de mentalidade e deixar para trás os preconceitos herdados que temos em torno da idade. O desenvolvimento científico está questionando a maneira de tomar decisões ou conceber políticas com base na idade cronológica, porque pode ser que esta não seja a melhor maneira de medir a saúde e a vitalidade de uma pessoa. Deveria avaliar-se as pessoas de uma maneira holística, porque a nutrição ou o exercício que uma pessoa faz pode ser um melhor indicador de como podemos aproveitar a oportunidade de uma vida mais longa, em vez de guiar-se só pela idade, que limita a pessoas, Governos e empresas. Devemos reformar legislações e métodos de trabalho para manter-nos em dia com as mudanças em saúde e biotecnologia, que estão tornando possível que tenhamos vidas mais saudáveis e longevas.

 

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