SUSTENTABILIDADE| 02.01.2025
Mónica Mir: “A discriminação contra pessoas com deficiência é reduzida quando você as conhece”
Incentivar a empatia e o respeito são elementos-chave para combater o assédio escolar sofrido por 8 em cada 10 menores com deficiência intelectual. É o que acha Mónica Mir (Madri, 1982), diretora geral da Fundación Best Buddies, que sabe bem sobre o assunto porque tem um filho com deficiência que mudou sua vida. Com seu trabalho deseja contribuir para mudar preconceitos.
1. Há pais que deixam de ir ao parque porque outras crianças não querem brincar com crianças com deficiência. Continua existindo exclusão?
Continuam existindo condutas excludentes para os menores com deficiência, especialmente quando coincidem com outros meninos e meninas em espaços de lazer, lugares onde essas pessoas são mais estigmatizadas e discriminadas. Por exemplo, no parque é onde se observa mais a falta de inclusão, diferentemente das salas de aula escolares, onde os colegas costumam conhecer os pontos fortes e as áreas de melhoria das pessoas com deficiência.
2. O principal objetivo da Fundación Best Buddies é ajudar as crianças com deficiência a fazer amizades. Como eles alcançam esse objetivo?
A amizade tem um impacto claro no bem-estar de todas as pessoas. A Fundación Best Buddies, que significa melhores amigos em inglês, organiza encontros para menores com deficiência intelectual que foram criados e adaptados para garantir que todos possam participar de atividades, como cozinhar ou fazer escalada. Com isso, busca-se fomentar as relações e o entendimento mútuo entre as crianças, já que ao conhecer melhor uma pessoa e compartilhar momentos especiais, diminui a probabilidade de que ocorram comportamentos de assédio.
3. Por que é importante ter relações de qualidade? Quais vantagens isso traz? Qual você acha que é a chave para fomentar a amizade em geral?
Há diversos estudos que concluem que a qualidade das amizades é o fator mais importante na felicidade ao longo da vida de todas as pessoas. Não só é importante contar com elas, mas também fomentar amizades diversas é essencial. Embora naturalmente tenhamos a tendência de nos aproximarmos de pessoas semelhantes a nós, é enriquecedor ter amigos com perspectivas e experiências diferentes. Isso nos permite aprender e crescer além da nossa bolha habitual.
4. Vocês atuam em vários países. A cultura influencia para que a inclusão seja maior?
A Espanha é um país onde as relações sociais têm um peso muito importante, mais do que em outras culturas. Portanto, não ter essas relações tem até um impacto maior devido à grande importância que atribuímos à vida social. Há culturas que têm um maior nível de empatia com as diferentes capacidades que uma pessoa pode ter, por exemplo, os japoneses costumam ser mais respeitosos e solidários na hora de socializar com pessoas com deficiências de diferente índole.
5. Nos últimos anos, o bullying aumentou nas escolas. De que forma você acha que esse problema deveria ser enfrentado?
80% das crianças com deficiência sofrem bullying, em comparação com 9 e 13% da população geral, o que reflete uma maior vulnerabilidade. São dados da Confederação Espanhola de Pessoas com Deficiência Física e Orgânica. Para preveni-lo, acredito que é crucial a prevenção através de oficinas de conscientização que promovam a reflexão sobre estereótipos e fomentem a empatia e o respeito. Também nos centros educacionais, para que as crianças aprendam a valorizar a diversidade e reduzam ao máximo as atitudes de bullying.
6. Que conselhos daria às famílias cujos filhos compartilham espaço escolar ou de lazer com crianças com deficiência intelectual?
As famílias de crianças sem deficiência são fundamentais na luta pela inclusão. Não deveriam ter medo de se aproximar e perguntar a um pai que tem um filho com deficiência intelectual porque este exercício lhes permitiria explicar a seus filhos por que algumas crianças precisam gritar ou manifestar certos comportamentos. Tanto as pessoas com deficiência como suas famílias valorizam enormemente que outras crianças brinquem e conversem com elas depois da escola. Pequenos gestos podem acabar se tornando o melhor momento do dia para eles.
7. Quais são seus principais desafios como diretora para alcançar uma sociedade mais inclusiva?
Acredito que o principal desafio que temos é transformar a percepção negativa que existe em torno da deficiência intelectual. Nós da Fundación Best Buddies queremos promover uma visão positiva destas pessoas, valorizá-las pelas virtudes e vantagens que proporcionam à sociedade. Também, envolver mais voluntários e embaixadores para que possam difundir o valor da diversidade e da igualdade de oportunidades e, assim, ajudar a mudar a imagem que ainda existe sobre essas pessoas.
8. Como acha que as companhias podem contribuir para melhorar a inclusão, a igualdade e a diversidade? Que benefícios você acredita que os ambientes diversos e inclusivos oferecem?
Empresas como a MAPFRE têm um papel crucial na promoção da inclusão, da igualdade e da diversidade, porque está comprovado que isso não só lhes permite avançar em algo tão importante como a redução das desigualdades, mas também as torna mais competitivas, inovadoras e, sem dúvida, mais produtivas. Isso acontece porque seus funcionários percebem que trabalham em uma organização que respeita as pessoas, se preocupa com a sociedade e oferece igualdade de oportunidades. Também podem contribuir com produtos e serviços voltados a atender às necessidades dessas pessoas e, sem dúvida, implementar medidas trabalhistas para evitar a discriminação.
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