SUSTENTABILIDADE| 19.09.2022
“Precisamos de mais compromisso, mais ambição e mais ação para cumprir com a Agenda 2030”
Entrevistamos Cristina Sánchez, diretora executiva do Pacto Mundial das Nações Unidas Espanha, para falar do papel que desempenham as empresas na execução da Agenda 2030, uma oportunidade única para que os países e suas sociedades enfrentem desafios para combater a mudança climática, diminuir a pobreza e promover a diversidade e a inclusão, entre outros.
A contribuição das empresas é fundamental para o cumprimento dos objetivos da Agenda 2030. Como acha que estão agindo as empresas diante dos objetivos impostos?
Realizar os desafios que propõe a Agenda 2030 é um trabalho que temos de fazer entre todos, e as empresas são uma parte fundamental. Este ano publicamos nosso relatório de consulta empresarial sobre desenvolvimento sustentável com o qual avaliamos as empresas em matéria de sustentabilidade e avaliamos seu compromisso. Obtivemos resposta de mais de 2.500 empresas espanholas, sendo a maior escuta empresarial realizada até a data em nosso país e, podemos concluir que as empresas estão adquirindo consciência, encaminhando-se para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, mas ainda há muito caminho para percorrer.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável encontram-se em um período de amadurecimento. Não só passamos de um conhecimento positivo do quadro em 2018 (69%) a um generalizado em 2022, com 86% das empresas espanholas que afirmam conhecê-lo, mas além disso os ODS já fazem parte das estratégias corporativas e da estrutura empresarial.
Concretamente, segundo os resultados de nossa consulta empresarial, 41% das empresas afirmam dispor de uma estratégia de sustentabilidade, das quais 78% se encontram alinhadas aos ODS, o que consolida a Agenda 2030 como marco de referência em sustentabilidade.
Quanto ao tamanho das empresas, todas avançam em relação aos resultados das pesquisas de anos anteriores, mas continuam na frente as grandes empresas, 73% delas afirmam dispor de um conhecimento profundo dos ODS frente a 42% no caso de PMEs e microempresas.
Podemos afirmar que estamos na direção certa?
Há tão somente 8 anos de prazo para cumprir os objetivos da Agenda 2030 e os dados indicam-nos que ainda há muito por fazer. Em nosso estudo, entende-se que há uma importante lacuna entre políticas e medidas. Isto é, as empresas têm um compromisso com os ODS e a Agenda 2030 mas depois não se realizam ações concretas. Também extraímos conclusões como as que nas empresas começa a aumentar a incorporação de critérios ESG (ambientais, sociais e de governança) e que 41% das empresas contam com uma estratégia de sustentabilidade. Segundo nosso estudo, 57% das empresas já conta com pessoas ou departamentos de sustentabilidade e em 33% das empresas este departamento depende diretamente do cargo máximo.
As empresas estão cada vez mais conscientizadas, mas ainda é preciso materializar estes esforços e tornar-los mensuráveis. Estabelecer indicadores em sustentabilidade que nos permitam conhecer a evolução das empresas é fundamental para poder avaliar o impacto das ações realizadas e identificar pontos de melhoria. Segundo o último relatório das Nações Unidas sobre o estado de cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, não estamos avançando no ritmo necessário para cumprir a Agenda 2030 por isso precisamos de mais compromisso, mais ambição e mais ação.
E se falamos da sociedade em geral, a mensagem da Agenda 2030 está sendo propagada? Os cidadãos e as administrações estão se comprometendo?
A Agenda 2030 continua avançando em seu difusão, mas já não podemos só trabalhar para que se conheça, mas temos que mobilizar à ação a todos estes atores citados na pergunta. No caso das empresas, por exemplo, seria muito interessante utilizá-las como porta-voz da Agenda com seus grupos de interesse, o que daria um impacto relevante somando consumidores, quadro de funcionários, prestadores…
O compromisso cresce, e vão se articulando regulamentos europeus e nacionais que o estão impulsionando, mas a necessidade é transformá-lo em ações, já que os anos vão passando e não estamos avançando no ritmo necessário para cumprir a Agenda 2030. A ONU define-o claramente: temos duas opções. A primeira é optar por abandonar os compromissos de ajudar os mais vulneráveis, a segunda é redobrar os esforços para cumprir os Objetivos e construir um futuro melhor para as pessoas e o planeta em 2030. Evidentemente, desde o Pacto Mundial trabalhamos nesta segunda linha.
Viemos de um período conturbado de dois anos de pandemia, como acredita que isso afetou esta crise global na gestão corporativa dos objetivos da Agenda 2030? Que oportunidades de melhoria surgiram devido a esta crise?
Há dois anos, em plena pandemia perguntamos isto às empresas, e 82% delas disse-nos que a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável podia ajudar a nossa empresa a ser mais resiliente e a enfrentar melhor futuras crises como a da COVID-19. Depois destes dois anos tão difíceis, 79% das empresas consultadas afirmam que existem vantagens competitivas na hora de implementar os ODS e 49% afirmam que a integração da sustentabilidade impactou de forma positiva os resultados econômicos da empresa. Sabemos que a sustentabilidade não foi abandonada pela crise sanitária. Avançaram-se medidas internas relacionadas à conciliação ou à flexibilidade e está se dando um maior protagonismo à digitalização. Cada vez mais empresas adequam sua gestão aos requisitos ambientais e a economia circular despontou seu interesse entre as empresas espanholas. Em geral, o compromisso das empresas cresce. Por exemplo, os sócios do Pacto Mundial na Espanha aumentaram em 20% no último ano.
Em que devemos trabalhar nestes oito anos que restam para cumprir estes objetivos? Onde é mais urgente pôr o foco?
Nos encontramos em uma situação limite e enfrentamos diversos desafios que pairam, de forma global, em uma tripla crise: a climática, provocada pela pandemia e a dos conflitos armados. Isto é prioritário. E para enfrentar isso precisa-se de mais ambição por parte de todos os agentes. Mas a Agenda também tem um enfoque local. Dependendo da região há outras urgências relacionadas à situação trabalhista, as desigualdades ou a pobreza, por exemplo. Por isso, a atuação empresarial não pode perder de vista esta dimensão local.
A partir do Pacto Mundial vamos insistir em determinados pilares que consideramos fundamentais para que as empresas espanholas sejam parte da solução. Em primeiro lugar, oferecer ferramentas e soluções para que as empresas tenham uma gestão em consonância com a emergência climática. Em segundo lugar, impulsionar as finanças sustentáveis do setor privado, o que é fundamental para que os esforços a favor da Agenda 2030 tenham força financeira. Lançamos uma Coligação de CFOS com o objetivo de proporcionar dez trilhões de dólares à Agenda. Em terceiro lugar, precisamos de mais aliados. Estamos trabalhando com grandes empresas, mas também com PMEs e com as cadeias de fornecimento. Precisa-se de mais empresas líderes que entendam que fazer negócios não só é fazer dinheiro. E que no desenvolvimento sustentável há muitas oportunidades para elas. Já temos mais de 1.000 empresas sócias só na Espanha, mas, como dizia, temos muito caminho a percorrer.
Que mensagem deixaria a nossos leitores? De que maneira podem contribuir para o desenvolvimento sustentável e para os objetivos da Agenda 2030?
Todos temos um papel muito importante, em cada um dos pilares da nossa vida. Quero falar sobre duas delas. Como trabalhadores ou trabalhadoras, devemos alinhar nossas decisões profissionais diárias aos propósitos da Agenda. Todos os profissionais podem contribuir para que a organização aplique seu compromisso ao desenvolvimento sustentável, não só aqueles/as que trabalhem na área de sustentabilidade ou meio ambiente. É fundamental o papel dos departamentos de finanças, de compras, de recursos humanos… E, por outro lado, que ajamos como consumidores conscientes. Traslademos a nossas compras os preceitos do desenvolvimento sustentável. É uma boa maneira de transformar nossos hábitos e influir nas empresas que oferecem produtos e serviços, favorecendo a concorrência de ofertas sustentáveis. O importante é agir com a consciência de que todos temos um papel fundamental.
Uma resposta coletiva
Na MAPFRE compartilhamos esta mensagem e por isso somos conscientes que é o momento de agir. Estamos na Década da Ação, um contexto de urgência em que temos a oportunidade única de colaborar para enfrentar os desafios sociais e ambientais. Na parte que toca a cada um de nós, é tempo de agir.
Sabemos que diante de desafios globais, a resposta só pode ser coletiva.
Acreditamos que cada pequena parte soma para provocar uma mudança, e por isso queremos fazer parte do mesmo com compromissos exigentes e categóricos em matéria social e ambiental, com serviços e produtos alinhados com eles e com uma governança que nos permita continuar avançando responsavelmente na direção correta.
Nosso compromisso com a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU é absoluto. Este quadro é fundamental para liderar a transformação sustentável das empresas, diante de crescentes demandas dos diferentes grupos de interesse.
Nosso claim #AParteQueNosToca representa o compromisso de todos para somar o objetivo comum de construir um mundo mais sustentável, isto é mais justo, mais próspero, mais ético, mais igual, mais diverso, mais colaborativo e mais ecológico.
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