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SUSTENTABILIDADE| 14.06.2022

A oportunidade do Big Data para a melhoria da segurança rodoviária e a sustentabilidade

JESUS MONCLUS 352

Jesús Monclús

Diretor de Prevenção e Segurança Viária da Fundación MAPFRE

 

Deixem-me iniciar este relato com uma experiência própria. Há aproximadamente um ano eu vinha para o trabalho em um carro pelo Paseo de la Castellana em Madri, era por volta de 7 da manhã e era ainda de noite. Já tinha ativado o sistema de controle inteligente de velocidade, que me ajuda a não passar dos 50 km/h nessa rodovia. Em questão de poucos segundos, ultrapassaram-me com uma importante diferença de velocidade um veículo VTC, um táxi e, o mais surpreendente, um ônibus.

Todos eles, muito provavelmente, contavam com um sistema de gestão de frotas que, entre outros dados, poderia dar informação sobre sua velocidade de circulação. Todos eles operavam com algum tipo de licença administrativa ou, dito de outro modo, também contavam, ou poderiam contar, com algum tipo de maior apoio público a seu comportamento rodoviário seguro.

O impacto que têm na segurança rodoviária os pequenos, ou não tão pequenos, excessos de velocidade urbanos não deve ser subestimado, para não mencionar o “efeito arrasador” que os veículos mais rápidos impõem sobre os outros; nós que tentamos respeitar os limites sofremos com frequência com o desrespeito nas estradas… Ou com o estresse que nós clientes destes tipos de serviços de mobilidade passamos quando temos de pedir, e com frequência insistir, a seus motoristas que não ultrapassem os limites de velocidade: o último a quem pedimos isso entendeu justamente o contrário, que “fosse até o limite”, chegando rapidamente a 80 km/h em plena via urbana… Depois me explicou que tinha entendido errado já que o normal é que os clientes digam que têm pressa e que se dirija o mais rápido possível: o mercado reage às demandas e expectativas de nós, os clientes. Não esqueçamos que no final somos nós clientes quem damos a oferta.

A nova mobilidade, compartilhada, conectada, inteligente, baseada no Big Data… pode ser uma enorme oportunidade para melhorar a segurança da mobilidade, começando pelos citados excessos de velocidade.

O número de veículos conectados a redes inteligentes, através de seus próprios sistemas de captura de dados como a partir de simples aplicativos do tipo “como dirijo” alcança já as centenas de milhares de veículos e, provavelmente, até mesmo milhões destes. Por um lado, a maior parte dos veículos que pertencem a frotas, tanto públicas como privadas, veículos de transporte público, incluídos os táxis, os veículos de VTC, os de carsharing… todos eles dispõem de geolocalização e da possibilidade de identificar um grande número de parâmetros de direção. Por outro lado, os novos veículos matriculados nos últimos anos, dotados em sua grande maioria de conectividade e capacidade para recompilar uma grande quantidade de dados e compartilhá-la com seus fabricantes ou com quem estes tenham acordos de colaboração ou comerciais.

Na atualidade, com um mínimo de hardware instalado nos veículos ou com um simples app instalado no smartphone do motorista, é possível obter informação muito valiosa sobre:

  • Pontos de início e finalização dos trajetos: distâncias médias percorridas
  • Hora inicial, final do deslocamento: sua duração
  • Velocidades médias ou instantâneas
  • Outros parâmetros como aceleração, freada, abruptidão nas voltas…
  • Localização de pontos perigosos com acumulação de excessos de velocidade, acelerações, freadas…

Dados básicos, em definitivo, sobre a segurança da condução e os deslocamentos. Por exemplo, poder localizar de forma precisa os pontos perigosos onde se produzam freadas mais bruscas ou onde a circulação passe do limite de velocidade é mais frequente para planejar ações de conscientização, supervisão do regulamento e outras iniciativas de segurança rodoviária como reforçar a sinalização, eliminar obstáculos à visão, etc.

Além disso, a oportunidade social de melhoria também se estende à economia e à sustentabilidade. A inteligência artificial aplicada à melhoria da direção eficiente também pode ajudar a reduzir o consumo e a dependência energética e a conseguir uma mobilidade com menor impacto ambiental e mais sustentável.

As empresas que gerenciam frotas, incluídas as empresas de carsharing, são as primeiras interessadas em ajudar seus clientes a ser melhores motoristas, mais seguros e, em geral, com menores custos derivados de um uso sub-ótimo de seus veículos. Consta que praticamente todas elas estão pesquisando novas tecnologias e projetos piloto. As novas tecnologias de inteligência artificial, em nossa opinião em um estado de maturidade suficiente para seu desdobramento progressivo, podem servir para classificar os motoristas em três grandes grupos: usuários maliciosos que realizam usos indevidos ou perigosos dos veículos, usuários “extra-cuidadosos” que por sua própria personalidade e cuidado ao volante deveriam ser um exemplo para todos os outros, e os que provavelmente sejam a imensa maioria e entre os quais me incluo e que poderíamos chamar de motoristas “medianos” a quem sempre se pode ajudar a ser ainda melhores, mais ecoeficientes e mais seguros.

E, neste ponto, acredito que temos duas opções. Ou aproveitar-nos de toda essa valiosa informação para melhorar a segurança rodoviária ou, ao contrário, continuarmos como os avestruzes com a cabeça enfiada dentro da terra. Aliás, eu li que não é que é os avestruzes enfiem sua cabeça debaixo da terra, pelo qual sem dúvida agradeceriam todos os seus predadores, mas recolocam frequentemente seus ovos dentro de seus ninhos construídos no solo. Que má fama a dos avestruzes.

Peço desculpas, porque me distraio facilmente. Nossa proposta-chave é que todos aqueles veículos de serviços públicos de mobilidade, locadoras de veículos e de sharing, de renting ou leasing, de VTC, táxis, frotas públicas e privadas, etc. que contem com tecnologias para isso, utilizem seus dados de mobilidade para ajudar a seus motoristas, a seus trabalhadores ou a seus clientes a viajar cumprindo as normas e, como resultado, a melhorar a segurança rodoviária. Já sabemos de casos em que os trabalhadores ou os clientes agradeceram às empresas que fizeram isso, uma coisa que se deve entender como uma oportunidade clara e, sobretudo, acreditamos que é uma responsabilidade social institucional básica.

Na Fundación MAPFRE, somos otimistas; nós, como diz nosso último lema, confiamos nas pessoas, nas empresas e nas administrações responsáveis e confiamos no futuro. Por isso, nosso objetivo em relação ao veículo conectado é que se transformem em uma ferramenta para a melhoria da segurança rodoviária. E isso pode acontecer sem dúvida: se à menor idade média destes veículos, se ao menor impacto ambiental derivado de sua habitual eletrificação (total ou parcial), se somar a utilização da informação como um verdadeiro mentor de responsabilidade e segurança nos ajudando a melhorar nossos pequenos (ou grandes) defeitos como motoristas, o que mais podemos querer? O primeiro passo provavelmente seria oferecer aos usuários de veículos conectados a possibilidade de “inscrever-se” em programas piloto incentivados de mentoria da direção, como modo de demonstrar o valor tanto para os próprios motoristas como para as empresas e, em definitivo, para a sociedade.

Vou concluir com uma frase emprestada de um de nossos diálogos com uma das empresas de carsharing líderes em nosso país: “podemos, não só conhecer as estatísticas, mas influir nelas e ajudar para que a nova mobilidade seja mais moderna e, sobretudo, mais segura”.