Novos modelos de atendimento sanitário: rumo a uma prestação da saúde melhor e mais sustentável
Apesar da maior incidência de muitas doenças, as pessoas vivem mais tempo. A OMS projeta que em 2050 haverá dois mil milhões de pessoas maiores de 60 anos no mundo, duas vezes mais que em 2015. Já existem mais pessoas maiores do que crianças menores de cinco anos.
As implicações econômicas destas tendências para as sociedades são profundas. Agora, as doenças complexas e crônicas relacionadas com a idade representam a maior parte dos orçamentos de atendimento médico no mundo. A prestação de serviços de assistência à saúde e social continua concentrada em ambientes hospitalares e especializados, levando ao uso ineficiente de recursos sanitários limitados.
O resultado é um agravamento na qualidade do atendimento aos pacientes, assim como uma inflação de custos descontrolada, devido a que a complexidade da demanda não é atendida por modelos de atendimento sanitário “tradicionais”.
Como absorver os custos crescentes do atendimento sanitário de populações envelhecidas sem colocar em risco a sustentabilidade das contas públicas e da indústria dos seguros de vida e saúde?
É isto que tenta perguntar o último estudo publicado recentemente pela Associação de Genebra, New Care Models. How insurers can rise to the challenge of older and sicker societies, elaborado por Adrita Bhattacharya-Craven e Nicholas Goodwin.
No estudo, o think tank formado pelas principais companhias seguradoras internacionais, entre elas a MAPFRE, foca nos Novos Modelos de Atendimento Sanitário (New Care Models, NCM) que estão emergindo nos últimos anos.
Os NCM, de acordo com o estudo, representam uma nova abordagem para a prestação de cuidados sanitários com um “triplo objetivo”: Melhorar as experiências de atendimento, os resultados da saúde e promover uma prestação de serviços mais sustentável financeiramente.
Os novos modelos de atendimento contam com uma série de características: em primeiro lugar, insistem na prevenção antes que no tratamento, com o objetivo de ajudar as pessoas a mitigar fatores que contribuem para o surgimento de doenças. Em segundo lugar, integram todos os aspectos das necessidades de atendimento sanitário: da saúde às relacionadas com a idade e o envelhecimento.
Em terceiro lugar, seu objetivo é “desinstitucionalizar” o atendimento sanitário, para retirá-lo dos caros hospitais e das instalações médicas e aproximá-lo dos ambientes domésticos e comunitários, com frequência com o auxílio da digitalização.
Este tipo de medidas pode apresentar melhorias significativas na experiência de atendimento sanitário para as pessoas, assim como melhores resultados da saúde e serviços menos caros para todas as partes envolvidas.
Na MAPFRE, Alfredo Castelo, diretor corporativo de Negócios e Clientes da empresa, acredita que o foco nos novos modelos de atendimento sanitário deve estar “na necessária visão de 360 graus, em que todos os grupos de interesse devem estar alinhados da melhor forma possível, dentro de um ecossistema de saúde com uma nova saúde global conectada. O ponto chave inicial é que, nessa visão integral, o cliente e seu bem-estar devem estar no centro de todas as estratégias”.
Nesse contexto, é necessária a colaboração público-privada para que as seguradoras possam oferecer estes serviços em coordenação com os governos e suas necessidades, nos diferentes graus de maturidade dos sistemas públicos de saúde. Outro elemento que pode ser incorporado à coordenação público-privada, e mesmo setorial mais global, é o papel chave das despesas farmacêuticas e dos próprios fabricantes de medicamentos, “cujo exemplo mais global está nas vacinas da COVID-19, mas seria desejável poder extrapolá-lo a outras necessidades médicas”, explica Castelo.
O exemplo da MAPFRE na República Dominicana
Nesta derivada, as diferentes associações de seguradoras de cada país desempenham o papel unificador de critérios, em que as companhias podem dar respostas coerentes, coordenadas e consensualizadas aos problemas globais da sociedade na questão da saúde. “As seguradoras devem ser capazes de integrar processos eficientes e automatizados, assumindo responsabilidades com o papel de gerentes de saúde, que acompanham o segurado na coordenação de sua necessidade sanitária, melhorando a experiência de cliente”, explica Castelo, quem coordena uma equipe que presta serviço a 21 países em que a MAPFRE opera no negócio de Saúde.
O papel da tecnologia
“A evolução dos seguros a partir do tratamento para a prevenção de doenças é uma abordagem estratégica. Graças à tecnologia, conseguiremos encurtar os tempos de diagnóstico, mas deve ser eficaz, para que não representem um incremento de custos pelo uso das novas tecnologias. Esse é um dos desafios”, acrescenta Castelo.
Outro ator importante nos grupos de interesse são as empresas e a importância social e empresarial do seguro de saúde dentro dos benefícios para os funcionários, em que os empregadores são protagonistas dentro do ecossistema. “As empresas são importantes agentes sociais e facilitadores do acesso aos seguros de saúde e de programas de prevenção, em que as seguradoras são bons companheiros de viagem”.
Em definitiva, o setor segurador tem um papel fundamental no cuidado da saúde dos cidadãos e ainda há muito trabalho a ser realizado, que requer o compromisso do setor público e privado, e de toda a sociedade em geral. Os novos modelos de atendimento sanitário podem ser um passo nessa direção.