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SAÚDE | 22.09.2020

“O bem-estar corporativo inclui o meio ambiente e as novas formas de trabalhar”

Marta Villalba

Marta Villalba

Formada em Ciências do Esporte, Beatriz Crespo Ruiz (Ciudad Real, 1985), é uma das poucas pessoas no mundo com dois doutorados, um em Rendimento Esportivo e outro em Medicina. Após seus estudos, ela trabalhou por sete anos no Hospital de Paraplégicos de Toledo com foco em neurofisiologia, robótica e exoesqueletos. Formadora de treinadores, professora universitária e incluída, em 2018, na lista das 100 Mulheres Líderes TOP na Espanha, em 2014 fundou a sua própria empresa, a Freedom and Flow Company, voltada para o Small Data da gestão de pessoas.

Nesse aspecto empreendedor, ela trabalha como analista de dados especializada em saúde e bem-estar corporativo. Junto com sua equipe, desenvolveu uma metodologia própria para promover a saúde corporativa em todos os níveis (Healthy Box) e a primeira plataforma para medir o estado de bem-estar das organizações (The Wellbeing Score). É membro do Focus Group de inteligência artificial da Comissão Europeia e sócia honorária do Instituto Internacional de Ciencias del Ejercicio Físico y la Salud (IICEFS).

Ela se dedica a inovar e a pesquisar como a saúde, o bem-estar e a tecnologia impactam o ambiente de trabalho, e tem testemunhado a evolução ocorrida nos últimos cinco anos nas empresas em relação ao atendimento aos seus funcionários. Naquela época, passou de um modelo de prevenção de riscos ocupacionais – com uma série de normas que obrigam as empresas a cumprir um mínimo de requisitos para preservar a segurança e a saúde ocupacional – a um modelo de promoção da saúde, em que as empresas não somente cumprem esses regulamentos de forma normativa, mas também “contribuem proativamente para gerar programas de bem-estar para os trabalhadores como forma de aumentar a produtividade, atrair talentos, fidelizá-los e entrar em uma competição pela melhor empresa para trabalhar”, afirma Beatriz Crespo.

Nessa nova estrutura, as empresas começaram a contratar soluções de nutrição, exercícios físicos, mindfulness etc., entretanto, eles não estavam funcionando porque são muito generalistas, segundo Beatriz Crespo. Essas ações e programas “geraram engajamento, responderam de certa forma à atração de talentos, àquela necessidade das empresas se posicionarem como os melhores empregadores, mas não estavam reduzindo os riscos de saúde. Além do mais, o absenteísmo trabalhista em 2018 gerou um recorde histórico na Espanha, subindo para 5,3%”. Beatriz Crespo lembra que tudo isso também coincide com uma mudança de paradigma no ambiente de trabalho: a digitalização. Assim, surgem novas formas de trabalhar e “são exigidas dos funcionários novas habilidades técnicas que, em muitos casos, geram mais pressão”.

Nos últimos dois anos, o bem-estar ocupacional deu um passo gigantesco nas empresas com a introdução de ferramentas de análise de dados (Data Analytics): essas ferramentas permitem personalizar programas de saúde e bem-estar de acordo com os determinantes sociais da saúde (tudo o que envolve a saúde). A medição desses parâmetros favorece a evolução para modelos sustentáveis​baseados em dados eficientes e personalizáveis​ao contexto do quadro de funcionários, não ao contexto geral das pessoas.

“O bem-estar corporativo não lida mais somente com os fatores psicossociais físicos ou emocionais, mas inclui também a sua relação com o meio ambiente, novas formas de trabalhar e o bem-estar social, ou seja, como nos sentimos nas relações com as outras pessoas e com os nossos ambientes – profissionais, pessoais e digitais. Até agora, isso não estava contemplado porque não havia como medir”, ressalta Beatriz Crespo.

A incerteza que a pandemia está gerando é um dos determinantes sociais da saúde a que se refere Beatriz Crespo. E, como consequência, está acelerando a adoção dessas ferramentas nas empresas, onde o bem-estar corporativo, um ativo intangível, não é mais responsabilidade do departamento de recursos humanos ou dos serviços médicos, mas “tornou-se um objetivo estratégico da empresa para garantir a felicidade e as medidas de prevenção contra a COVID-19 e normalizar o trabalho remoto sem perder produtividade”, explica Beatriz Crespo.

Por meio de soluções de análise de dados, os funcionários recebem um relatório com um plano de ação personalizado. Com os dados agregados, mede-se constantemente o efeito da implementação, monitora-se o progresso e como interagem as pessoas com essas ações. Tudo isso, segundo o especialista, mostra tendências no comportamento futuro e não tanto nos comportamentos passados, como era avaliado nas pesquisas de clima.

“Há muita diversidade nos estilos de vida e na forma como as pessoas estão vivenciando a COVID-19, por isso as estratégias de bem-estar corporativo precisam ser personalizadas ao máximo. Não só a empresa é avaliada, mas cada pessoa recebe o que precisa no momento. Esse método baseado na análise de dados é preditivo, preventivo e proativo”.

Beatriz Crespo garante que essas ferramentas não comprometem os dados dos funcionários, uma vez que, entre outras medidas, são anonimizadas e é seguido um processo de criptografia, de acordo com as normas europeias. Nem a empresa, nem a Freedom and Flow podem correlacionar dados pessoais. A coleta de dados é terceirizada, e a empresa recebe somente os dados agregados.

“Um funcionário que se sente em estado de completo bem-estar é muito mais produtivo. O que deve garantir o bem-estar corporativo é um estado de bem-estar pessoal, coletivo e social”.

Na MAPFRE, estamos comprometidos com essa ideia. Por isso estamos determinados a criar um ambiente de trabalho saudável que permita aos nossos funcionários trabalhar nas melhores condições físicas, mentais e sociais. Nosso compromisso com a saúde se reflete nas campanhas globais que realizamos para aumentar a conscientização e contribuir para a criação de estilos de vida saudáveis.

Todas essas ações são realizadas levando-se em consideração os dados estatísticos sobre a saúde mundial e as estratégias definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e por outros organismos internacionais.