SAÚDE | 04.02.2021
“O maior fator de risco para desenvolver câncer, ainda maior do que o tabaco, é completar anos”
No Dia Internacional do Câncer, uma das principais doenças que causam morte no mundo, entrevistamos a María Blasco, Diretora Científica do Centro Nacional de Pesquisas Oncológicas (CNIO), sobre a situação atual da doença na Espanha e a importância de manter a ciência e a pesquisa, como as melhores ferramentas para enfrentar os desafios futuros da humanidade.
Legenda: María Blasco, fotografada por Amparo Garrido / CNIO.
Pergunta (P.): Graças à pesquisa, um alto grau de sobrevivência foi alcançado contra alguns tumores. Em que momento estamos? Quais são os desafios mais urgentes que o CNIO enfrenta?
Resposta (R.): Um dos objetivos do CNIO é o estudo da metástase para desenvolver estratégias terapêuticas e medicamentos que irão prevenir sua ocorrência. A metástase continua sendo a principal causa de morte por câncer.
(P.): De acordo com a Rede Espanhola de Registros de Câncer, 277.000 novos casos de câncer são diagnosticados anualmente na Espanha. Esse cenário vai piorar ou seremos capazes de impedir?
(R.): A expectativa é que aumente e isso porque em nosso país haverá cada vez mais pessoas idosas, é o que se chama de “envelhecimento demográfico” da população. O maior fator de risco para desenvolver câncer, ainda maior do que o tabaco, é completar anos. Isso se deve ao fato de que cada vez que nossos tecidos precisam ser reparados ou regenerados, nossas células têm que se multiplicar, copiando o material genético para as células filhas. Este processo de cópia não é perfeito e causa danos ao nosso DNA que podem levar ao câncer.
“A ciência respondeu rapidamente a Covid, precisamente porque muitas das descobertas já feitas por cientistas em outros ramos”
(P.): Muitos dos fatores de risco associados ao câncer têm a ver com o abuso de substâncias, como tabaco ou álcool, ou um estilo de vida sedentário. Estamos atualmente em maior risco?
(R.): O tabaco aumenta os danos ao nosso DNA e isso aumenta o risco de desenvolver câncer. O mesmo se aplica a outras substâncias tóxicas associadas à poluição, amianto, radiação e alimentos.
(P.): O ano passado foi um marco para a ciência, mas também relegou todas as doenças que não eram Covid-19 para segundo plano, atrasando a detecção, os tratamentos … A Sociedade Espanhola de Oncologia Médica (SEOM) alertou para o “limbo”. Como resolvemos isso?
(R.): Os cientistas sabem que a ciência nunca pode parar, porque os tratamentos que funcionam hoje se originaram de pesquisas que não estavam no centro das atenções na época em que foram produzidos. Parar a ciência é acabar com as esperanças de um futuro melhor, com menos doenças. Agora a ciência respondeu rapidamente a Covid, precisamente porque muitas das descobertas já feitas por cientistas em outros ramos da ciência foram adaptadas a esta nova doença. A ciência é a melhor ferramenta para enfrentar os desafios futuros da humanidade e nenhuma pesquisa pode ser interrompida.
(P.): O coronavírus pode aumentar o risco de complicações em alguns tratamentos de câncer, o que tem sido chamado de sindemia do câncer no contexto atual. Como proteger esse grupo de risco? Podem e devem ser vacinados?
(R.): As diretrizes de vacinação são determinadas pelo Governo, entendo que eles vão levar em consideração este e outros aspectos na escolha dos grupos a serem vacinados com prioridade.