O metaverso e seu impacto nos seguros
De acordo com uma recente pesquisa de ICEA, apenas na Espanha 4% das empresas seguradoras dispõe de um orçamento alocado para o metaverso. Os especialistas concordam que não haverá projetos confiáveis nesta nova realidade virtual até 2026. Para a MAPFRE ESPAÑA, estes novos ambientes “são muito relevantes e do máximo interesse”.
“A moda se protege das falsificações no metaverso”. Esta manchete, publicada em novembro passado em um importante jornal, alertava sobre como as empresas de alta costura tinham encontrado o primeiro problema ao apresentar suas coleções na passarela desta nova realidade virtual. Com o metaverso ainda em seus inícios, as marcas de roupa detectaram falsificações de seus produtos e seus especialistas legais se esforçam por estender os registros das peças e identificar de forma única os proprietários dos ativos digitais (peças virtuais) que vestirão os avatares (identidade de uma pessoa nesse ambiente digital).
O metaverso ainda levará alguns anos para se tornar um cenário comercial e de interação em massa, mas poucos duvidam que estes novos universos farão parte do negócio global. De acordo com Morgan Stanley, uma das gestoras de investimentos mais importante do mundo, até 2030 o metaverso acumulará 10% das vendas de luxo (mais de 50 bilhões de euros).
O metaverso é um ecossistema virtual e tridimensional, com a necessária utilização de óculos 3D no início, em que os usuários (indivíduos, empresas ou outras organizações) poderão interagir entre si. Mediante avatares e uma experiência imersiva, conseguiremos trabalhar, brincar, comprar, aprender, assistir a eventos culturais ou esportivos, reuniões com familiares e amigos…
O setor dos seguros no metaverso
Os videogames e a moda parecem liderar este início, e não é menos verdade que em todos os setores econômicos estão sendo realizadas pesquisas, estudos ou ensaios visando se posicionar nesta nova realidade. O que acontecerá com as seguradoras? Quais serão suas oportunidades? Haverá um ecossistema virtual de seguros?
Em outubro passado, o ICEA, o serviço de estatísticas e estudos do setor de seguros na Espanha, apresentou o relatório Insurance Metaverse: novas realidades, novas oportunidades, em que a maioria dos especialistas do setor reconheceu que as seguradoras estão refletindo sobre as possibilidades do metaverso e admitiram “a imaturidade atual destes novos ambiente virtuais”, o que impede o avanço na aplicação. As entidades participantes estimam que será a partir de 2026 quando serão observados os avanços nesta realidade virtual.
Segundo o relatório, patrocinado por Minsait, menos de 10% das empresas dispõe de um orçamento alocado ao metaverso, 42% estão definindo atualmente esse item e apenas 3,8% possui esses fundos.
Definição de objetivos no novo ambiente
Outro dos dados mais esclarecedores do relatório é que mais de 70% das empresas do setor não têm uma estratégia definida sobre como agir nestes universos virtuais. Por isso, como destaca o estudo do ICEA, o primeiro obstáculo é definir os objetivos dessa presença no metaverso. Conseguir posicionamento de marca ou publicidade, interagir para fidelizar os clientes e ter acesso a novos segmentos, atrair talento profissional e promover o desenvolvimento de novos produtos são algumas das estratégias propostas nas áreas de inovação das empresas de seguros.
Também pode ser a criação de espaços de trabalho, “localizações virtuais que gerariam oportunidades para o desenvolvimento de diferentes tipos de atividades”, e escritórios de venda de seguros e assessoria.
Os novos produtos seguradores poderiam estar direcionados a ativos digitais como NFTs (Tokens não fungíveis), criptomoedas e aqueles relacionados com lar, saúde ou responsabilidade civil.
Aqui surgem as questões mais sérias. Segurar este tipo de ativos digitais contra roubos ou danos, por exemplo, dependerá de uma regulamentação clara e da segurança do metaverso. “É verdade que, em princípio, devido à tecnologia utilizada (blockchain), é mais difícil hackear ou roubar ativos digitais, mas as entidades seguradoras não veem, de momento, uma legislação específica sobre direitos digitais e propriedade intelectual na realidade virtual. É verdade que poder agir globalmente abre oportunidades, mas se olharmos para a situação atual, não é a mesma legislação de proteção de dados na União Europeia do que na China ou nos EUA”, explica para a MAPFRE Sabina Martín Martínez, da área de pesquisa de ICEA.
Entre os riscos decorrentes de um envolvimento nestes universos, a maioria das empresas participantes no estudo destacou aqueles vinculados à regulação dos dados e à obtenção de um ambiente virtual seguro.
Incerteza sobre o impacto nas seguradoras
Nos grupos de trabalho prévios ao relatório, “ficamos surpresos que os profissionais das seguradoras espanholas têm um conhecimento bastante alto das implicações, riscos e possibilidades do metaverso, especialmente nos perfis de inovação”. Fernando Granado, especialista em Inovação da MAPFRE ESPAÑA, participou nesse grupo de trabalho: “Junto com outros colegas de inovação de seguros, começamos a olhar o que o metaverso pode fornecer e mudar em nosso setor. Hoje ninguém sabe qual será o impacto concreto, isto dependerá do tempo, mas participar neste tipo de trabalhos significa que comecemos a construir esse futuro juntos, sempre focando no cliente”.
Novos segmentos e experiência do usuário
Quanto à aplicação do metaverso para atrair novos segmentos de clientes, o objetivo mais claro é a publicidade e o posicionamento da marca. “Como ingressar neste novo meio e conseguir mais visibilidade serão os objetivos a curto prazo. Tecnologicamente, como fazer isso representa o principal desafio. Na atualidade, há poucas realizações concretas, porque o setor se encontra em fase de planejamento, mas não é possível descartar que as seguradoras, por exemplo, possam visibilizar sua marca com sua participação em eventos, como shows, a fim de visar um perfil determinado”, explica a pesquisadora do ICEA. A médio prazo, eles também podem criar um escritório virtual com assessores e outros funcionários para esclarecer dúvidas ou reclamações.
Outra das preocupações é quantos metaversos serão eventualmente desenvolvidos e quantos terão um segmento maior de usuários, em que as empresas seguradoras poderão se posicionar. “Não saber se permitem uma interrelação empresa-usuário e a falta de normas específicas obstaculiza o desenvolvimento de projetos. É preciso estabelecer um marco confiável, seguro e definido para começarmos a nos envolver”, comenta Martín Martínez.
Embora se fale principalmente de Meta, o metaverso que Mark Zuckerberg está criando, cofundador de Facebook, é mais que provável que coexistam vários metaversos. Empresas como Apple, Google, Epic Games ou Microsoft também estão desenvolvendo infraestruturas similares. Está até previsto que possam existir ecossistemas virtuais próprios das seguradoras.
Com relação à experiência do usuário, os especialistas consultados auguram mudanças importantes. Falar pessoalmente, por telefone ou e-mail não é o mesmo que falar através de um avatar em uma sala de reunião no metaverso. “O ambiente mudará a experiência, esclarece a pesquisadora do ICEA, mas não sabemos quanto ou como. Há pessoas que não se sentem à vontade em um momento presencial ou em videochamadas, mas estão mais confortáveis com um avatar que as identifica”.
Juan Cumbrado: “É um tema relevante e de máximo interesse”
Juan Cumbrado, diretor de Inovação da MAPFRE ESPAÑA, sustenta que o metaverso “é um tema de máximo interesse por vários motivos. A transcendência que ele está assumindo na sociedade e nas empresas é relevante também para nós. A primeira coisa que estamos fazendo é estudar o que significam estes ambientes para entender as possibilidades”.
No âmbito dos recursos humanos, a MAPFRE ESPAÑA já realizou palestras com funcionários e espaços para cultivar o talento digital e a divulgação foram criados. “Além das pessoas de Inovação, que seriam a ponta de lança nesta área, os próprios funcionários dispõem de conteúdo para obter informações. Em paralelo a esta fase de aprendizagem, elaboramos relatórios internos sobre qualquer tendência que afete o negócio”, diz Cumbrado.
Além das capacidades para manter um espaço onde acontece uma relação virtual entre as pessoas, “estamos em uma fase exploratória, pesquisando que modelo de negócio pode ser aplicado no metaverso. A partir daí, será preciso implantar linhas de trabalho sobre projetos pensando nas pessoas, clientes e funcionários,” especifica o responsável por Inovação.
Em 2023, a MAPFRE começará a testar os conceitos resultantes desta exploração inicial. “Assim como o Metropolitan Museum de Nova Iorque permite uma experiência imersiva em obras de arte, imagine as possibilidades que existem nesta parte informativa, como a que podemos ter em temas de saúde, quando os dispositivos (óculos 3D) se tornem populares”, menciona Cumbrado.
Os riscos, de acordo com PwC
Entre os riscos que estes novos universos representarão e que podem envolver as seguradoras, PwC destaca os seguintes:
Ataque ao metaverso. Os dados dos usuários podem ser roubados ou perdidos como resultado de hacking digital, prejudicando o valor do cliente neste novo ambiente. O uso malicioso de avatares também pode originar abusos e danos à reputação.
Litígio pelos direitos de marca e propriedade intelectual. Já surgiram litígios em relação à infração de direitos de marca e propriedade intelectual das transações NFT.
Perda de dados. Existe o risco de que o avatar, os dados NFT e outros ativos digitais sejam perdidos por falha nos prestadores das plataformas do metaverso. Este prestador de serviços enfrenta o risco de ter de indenizar os clientes por danos econômicos.
Negligências do usuário. Como os participantes exigem o uso de óculos de realidade virtual para obter uma autêntica experiência imersiva, é possível que eles possam sofrer lesões ou causar ferimentos em outras pessoas. Além disso, se um usuário filtrar inadvertidamente dados confidenciais durante sua imersão, ele pode ser responsabilizado por danos. Em ambos os casos, as seguradoras podem criar produtos de seguros específicos.
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