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INOVAÇÃO| 12.12.2024

A inovação como chave na competitividade das empresas europeias

Jose Mendiola Zuriarrain

Jose Mendiola Zuriarrain

Economista, jornalista e autor

 

A dívida comum, a ameaça da China, a inovação e os automóveis são os pontos mais relevantes do relatório apresentado por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu. Além disso, ele ressalta que a Europa está há anos atrás de mercados como os Estados Unidos e a China, o que resultou em um atraso na competitividade do Velho Continente.

A Europa enfrenta importantes desafios em sua luta para manter a competitividade. Apesar de ser uma das regiões econômicas mais avançadas, seu atraso em inovação e tecnologia em relação aos Estados Unidos e à China ameaça sua posição estratégica. Segundo dados do Global Competitiveness Report 2024 do Fórum Econômico Mundial, a Europa perdeu terreno  em áreas-chave como a digitalização e o desenvolvimento tecnológico, ficando atrás de seus concorrentes em vários indicadores críticos. A adoção da tecnologia é, portanto, um fator determinante para impulsionar a produtividade empresarial.

O Velho Continente atravessa um período de desaceleração econômica, com um crescimento que se mantém abaixo da média histórica e que difere do registrado por outras economias avançadas. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB da região cresceu apenas 0,6% em 2023, refletindo um avanço moderado que afeta tanto as grandes economias como os países menores, e não parece que a situação vai melhorar muito este ano. De acordo com o relatório Panorama econômico e setorial 2024: atualização de previsões para o quarto trimestre, elaborado pela MAPFRE Economics, a zona do euro registrará previsivelmente um crescimento de 0,8% este ano, seguido de uma melhoria em 2025 até alcançar 1,2%.

Esta situação é explicada em grande medida pelo baixo investimento do setor privado, apesar de algumas condições financeiras que poderiam ser mais favoráveis. Fatores como a incerteza política, as tensões geopolíticas e as barreiras estruturais persistentes continuam limitando um crescimento econômico mais sólido.

O FMI destaca que a Europa ainda tem uma base sólida sobre a qual construir sua recuperação econômica. A região conta com setores industriais competitivos, uma força de trabalho muito qualificada e um ambiente de pesquisa de primeiro nível. No entanto, para aproveitar este potencial, é necessário eliminar os obstáculos que fream o investimento privado e criar um ambiente mais favorável para o desenvolvimento de tecnologias emergentes. A organização destaca que a Europa tem uma ampla margem para melhorar se conseguir incentivar o investimento, fomentar a inovação e fortalecer suas infraestruturas digitais.

Neste contexto, as empresas europeias têm a oportunidade de liderar uma transformação que não só lhes permita competir com outras regiões, mas também responder às exigências de uma economia mais digital e sustentável. Neste sentido, maior investimento em P + D pode aumentar de forma significativa a produtividade e o crescimento econômico, conforme resulta do European innovation scoreboard 2023. A chave está em acelerar a inovação tecnológica e superar as barreiras que detêm o desenvolvimento empresarial.

Obstáculos na competitividade

Esta fraqueza europeia não é nova, mas agora, vários relatórios analisaram a situação em profundidade. É o caso do relatório Letta, elaborado pelo ex-primeiro ministro italiano Enrico Letta, ou o publicado recentemente por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu e também ex-primeiro ministro italiano. Sob o título O futuro da competitividade europeia, Draghi aprofunda uma série de desafios que estão afetando a competitividade do Velho Continente.

  1. Atraso em investimento em P + D

A Europa investe menos em pesquisa e desenvolvimento em comparação com os Estados Unidos, Japão e China. Este déficit é mais pronunciado no setor privado, onde predominam as indústrias de intensidade tecnológica média ou baixa, o que reflete a falta de um ambiente propício para o desenvolvimento de setores de alto valor agregado.

Por exemplo, no setor tecnológico, a Europa reconheceu sua dependência de fornecedores externos na produção de semicondutores, componentes essenciais para tecnologias avançadas como a inteligência artificial e a Internet das Coisas. Para abordar esta vulnerabilidade, a União Europeia implementou a Lei Europeia de Chips, com o objetivo de duplicar sua participação de mercado global para 20% até 2030. Esta iniciativa busca fortalecer a competitividade e a resiliência da Europa em tecnologias de semicondutores, apoiando a transição digital e verde.

  1. Fragmentação do mercado interno

As barreiras regulatórias, fiscais e legais dentro dos Estados membros dificultam que as startups e empresas tecnológicas escalem a nível continental. As PMEs, que constituem o núcleo do tecido empresarial europeu, contam com maiores dificuldades para competir em escala global devido à diversidade normativa.

  1. Custos energéticos elevados

A competitividade industrial europeia sofre preços de energia mais altos que os de seus principais concorrentes. Este fator aumenta os custos de produção e limita a capacidade das empresas de investir em novas tecnologias.

  1. Baixa comercialização de novas tecnologias

Apesar de ter uma base científica sólida e contar com uma tradição pela inovação, a Europa não conseguiu converter estes avanços em uma liderança comercial. Isto torna-se mais palpável em setores como a inteligência artificial, os semicondutores e a computação quântica, onde Estados Unidos e Ásia assumiram a liderança.

Tendências de inovação para liderar a mudança

Para reverter esta situação, é crucial focar nas tendências tecnológicas que estão redefinindo a economia global. Estas tecnologias não representam apenas uma oportunidade para aumentar a competitividade europeia, mas também um meio para transformar setores estratégicos.

  1. Inteligência Artificial (IA)

A inteligência artificial está transformando a forma como as empresas operam, otimizando processos e melhorando a tomada de decisões em tempo real. Seu impacto abrange setores-chave:

  • Logística: Empresas como Amazon e DHL utilizam IA para analisar padrões de demanda, otimizar rotas de entrega e antecipar problemas na cadeia de fornecimento. Estas ferramentas permitem reduzir os custos operacionais, garantir entregas mais rápidas e melhorar a experiência do cliente. Além disso, os algoritmos de aprendizagem automática gerenciam inventários de maneira mais precisa, ajudando a evitar tanto o excesso de estoque quanto a falta de produtos.
  • Indústria farmacêutica: no desenvolvimento de medicamentos, a IA agiliza a identificação de compostos químicos promissores e melhora o planejamento de ensaios clínicos. Durante a pandemia, empresas como a Pfizer empregaram algoritmos avançados para acelerar a criação de vacinas, demonstrando a capacidade desta tecnologia para enfrentar os mutantes desafios médicos.
  • Indústria seguradora: as companhias de seguros implementaram soluções de inteligência artificial para melhorar a experiência do cliente e otimizar seus processos internos. Por exemplo, na MAPFRE desenvolvemos um sistema de automatização inteligente que permite resolver sinistros por danos de água no lar em questão de minutos, uma tarefa que exigia vários dias. Este sistema utiliza machine learning para compreender as necessidades do cliente e oferecer respostas precisas e confiáveis a qualquer momento.
  1. 5G e a Internet das Coisas (IoT)

A combinação de 5G e IoT está impulsionando avanços significativos em vários setores ao habilitar a conectividade em tempo real e a automatização de processos. No setor segurador, estas tecnologias estão transformando a forma como os dados são coletados, analisados e utilizados para melhorar os serviços oferecidos:

  • Setor segurador: A conectividade avançada permite o uso de dispositivos IoT para monitorar riscos em tempo real. Por exemplo, os seguros residenciais agora podem incluir sensores conectados que detectam vazamentos de água ou incêndios, permitindo ações imediatas para minimizar danos. No âmbito do seguro de automóveis, dispositivos telemáticos reúnem informação sobre o comportamento do motorista, o que permite ajustar os prêmios em função do uso e fomentar hábitos de direção mais seguros. A MAPFRE emprega soluções baseadas em IoT para oferecer seguros personalizados e administrar sinistros de forma mais eficiente.
  • Automóveis: Os veículos conectados por meio de redes 5G podem interagir com infraestruturas inteligentes para melhorar a segurança viária e a experiência do usuário. Estas conexões permitem prestações avançadas, como a direção autônoma, atualizações remotas de software e navegação otimizada em tempo real. A Tesla e a BMW se encontram na vanguarda destas inovações, impulsionando o resto da indústria.
  • Saúde: dispositivos médicos conectados, como sensores de glicose e monitores cardíacos, estão transformando o atendimento sanitário. Estes dispositivos permitem que os médicos realizem um acompanhamento remoto dos pacientes, facilitando diagnósticos mais rápidos e tratamentos mais eficazes. Durante a pandemia, esta tecnologia ajudou a administrar pacientes em isolamento. 
  1. Cibersegurança 

A crescente digitalização aumentou a exposição das empresas a ciberataques. A proteção de dados e a continuidade das operações tornaram-se prioridades críticas para as organizações. Segundo dados recentes, os ciberataques na Europa cresceram 40% nos últimos três anos, afetando setores-chave como a saúde, as finanças e a indústria.

  • Proteção de dados: ferramentas baseadas em inteligência artificial permitem identificar vulnerabilidades em redes e prevenir ataques antes que ocorram. Um caso destacável foi o ataque de ransomware sofrido por um hospital alemão em 2021, que paralisou seus sistemas operacionais e afetou o atendimento médico de centenas de pacientes. Este tipo de incidentes evidencia a necessidade de soluções avançadas que garantam a segurança das infraestruturas críticas.
  • Projeção futura: para 2025, está previsto um crescimento significativo na demanda de seguros de segurança cibernética, impulsionado pela crescente dependência das empresas em sistemas digitais e pelo aumento das ameaças cibernéticas. Este cenário representa um desafio para as seguradoras europeias, que devem desenvolver produtos e serviços inovadores para satisfazer essas novas demandas. Neste sentido, na MAPFRE lançamos “CIBER On”, um seguro de riscos cibernéticos dirigido a autônomos e pmes, que protege contra danos em sistemas informáticos, interrupções do negócio e extorsão cibernética, além de oferecer suporte técnico disponível 24 horas por dia.
  1. Tecnologias limpas

A transição para fontes de energia mais limpas e sustentáveis é essencial para garantir a segurança energética e combater a mudança climática. Assim, a dependência da Alemanha do gás russo, especialmente durante a crise de 2022, expôs a vulnerabilidade do seu sistema energético. Para mitigar essa situação, o país aumentou os investimentos em energia solar e eólica, mas continua enfrentando desafios relacionados ao armazenamento e à diversificação das fontes de energia. Este exemplo demonstra a importância de desenvolver tecnologias que reduzam a dependência de recursos externos.

Estratégias para superar os desafios de competitividade neste novo contexto

A Europa enfrenta importantes obstáculos para se posicionar-se como líder tecnológica, mas também conta com grandes oportunidades para alcançar esse objetivo:

  • Maior colaboração público-privada: é necessário fomentar alianças entre governos, empresas e universidades para criar ecossistemas de inovação sólidos. Essas colaborações permitiriam compartilhar recursos, conhecimento e riscos, acelerando a adoção de tecnologias-chave.
  • Acesso simplificado a fundos europeus: programas como o Horizonte Europa podem ser cruciais, mas as empresas precisam de um acesso mais ágil e menos burocrático a estes recursos. Alémdisso, é fundamental que os fundos sejam dirigidos a projetos com alto impacto transformador.
  • Aprender com modelos bem-sucedidos: Os Estados Unidos conseguiram integrar o capital privado e público de forma eficiente, enquanto a Ásia se destaca pela escalabilidade de startups tecnológicas. A Europa deve adotar estratégias similares para dinamizar seu mercado e incentivar o crescimento de empresas inovadoras.
  • Fortalecer a educação e o talento: a transformação tecnológica requer uma força de trabalho capacitada. Investir em formação, incentivar as carreiras STEM (ciência, tecnologia), engenharia e matemática) e atrair talento global são passos essenciais para garantir que a Europa possa liderar esta nova era.
  • Garantir um marco regulatório coerente e adaptado ao futuro: É essencial desenvolver regulamentações que incentivem a adoção de tecnologias-chave, garantam a proteção de dados e favoreçam a interoperabilidade de sistemas digitais entre os Estados membros. Um quadro comum reduziria as barreiras administrativas, facilitaria a expansão de startups e garantiria a segurança em um ambiente cada vez mais digitalizado.

A conclusão do relatório está clara: a inovação tecnológica é fundamental para a competitividade empresarial e o crescimento econômico na Europa. Segundo o Quadro Europeu de Indicadores da Inovação 2022 da Comissão Europeia, o rendimento da UE em matéria de inovação melhorou cerca de 10% desde 2015.  No entanto, para consolidar este progresso e recuperar a liderança global, é necessário uma ação imediata e coordenada entre empresas, governos e instituições.

 

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