INOVAÇÃO| 04.03.2025
Radiografia do ecossistema insurtech na América Latina em 2024
O ecossistema insurtech na América Latina vive uma contradição: o financiamento é baixo, mas o número de agentes buscando impulsionar o mercado continua crescendo. Após um 2024 desafiador, 2025 começou com uma perspectiva mais positiva, impulsionada por novos anúncios de rodadas de financiamento.
O ano de 2024 foi marcado por um equilíbrio em que a atividade econômica se manteve próxima do potencial, demonstrando resiliência frente a incertezas globais, enquanto o controle do processo inflacionário foi uma constante. Para 2025, espera-se um crescimento econômico global sustentado e uma desaceleração da inflação média, o que permitirá aos bancos centrais gerenciar melhor o ambiente econômico e aumentar a probabilidade de adotar uma postura mais neutra.
Nesse contexto, MAPFRE Economics, o Serviço de Estudos da MAPFRE, revisou para cima sua previsão de crescimento para a economia mundial, estimando uma taxa de 3,1% este ano – um aumento de 0,1 ponto percentual – e 3% no ano seguinte, conforme indicado no relatório “Panorama econômico e setorial 2025”, publicado pela Fundación MAPFRE.
No caso específico da América Latina, o mesmo relatório aponta que a região deve aumentar seu PIB em 1,6% este ano e 1,7% no próximo, com forte dependência de sua relação com os Estados Unidos, o que pode aumentar a vulnerabilidade regional. A MAPFRE Economics espera um desempenho positivo, mas heterogêneo, com uma inflação média para a região de 8,6% este ano e 8% no próximo.
“A situação econômica da América Latina é complexa, e isso também está se refletindo no venture capital”, avalia Carlos Cendra, Scouting & Investment Lead em Inovação Corporativa da MAPFRE. “Se olharmos para o ecossistema insurtech, vemos semelhanças claras com o contexto macroeconômico, com quedas no financiamento, mas também com mercados que estão fazendo grandes esforços para avançar rumo a um 2025 com melhores resultados”, acrescenta.
O contexto adverso não desanima os empreendedores
Embora o primeiro semestre de 2024 tenha registrado o financiamento mais baixo da história – apenas 26 milhões de dólares –, a segunda metade do ano apresentou números mais positivos, ainda que abaixo dos anos anteriores. O investimento alcançou 92 milhões de dólares, uma queda de 38% em relação a 2023, segundo o relatório Latam Insurtech Journey, elaborado pela Digital Insurance LatAm com o patrocínio da MAPFRE.
“Essa queda foi motivada pela cautela dos investidores diante do ambiente econômico incerto e das dificuldades que muitas startups insurtech encontraram para gerar rentabilidade a longo prazo. No entanto, a segunda metade do ano mostrou sinais positivos com um aumento de 156%, o que sugere que os investidores ainda veem oportunidades no setor. Estamos otimistas de que isso indique um 2025 com maior volume de investimentos”, afirma Carlos Cendra
Apesar da redução no total de capital disponível, Brasil e México continuam sendo os principais receptores do investimento, concentrando 33% e 32% do total, respectivamente. Isto se deve, em grande parte, à maturidade de seus mercados e a políticas de apoio à inovação que fomentaram o crescimento destas startups.
O Brasil se posicionou como líder em inovação regulatória graças a seu sandbox no setor dos seguros, um ambiente controlado onde as empresas podem provar novos modelos de negócio sem estar sujeitas às normas de uma seguradora tradicional. Hoje, 17 insurtechs estão operando dentro deste programa, com 92% de crescimento em prêmios emitidos. O sucesso desse modelo tem sido essencial para atrair investimentos e fomentar a inovação no país, e espera-se que outros países da região adotem estruturas regulatórias semelhantes nos próximos anos.
Analisando o número total de agentes, o relatório Latam Insurtech Journey indica que, atualmente, são mais de 500 insurtechs na região, o que representa um crescimento de 5% em comparação com o ano anterior. Brasil (206), México (120) e Argentina (88) são os países com o maior número de startups, e a zona do Pacífico é a que apresenta o maior crescimento percentual, com destaque para Peru (+26%), Chile e Equador (+21% cada um) e Colômbia (+18%).
Um fator-chave para este desenvolvimento está na internacionalização: durante o último ano, foi registrado um aumento de 16% na expansão de insurtechs latino-americanas a outros mercados, enquanto a região atraiu 29% a mais de startups estrangeiras. México e Colômbia foram os principais destinos para estas empresas devido à estabilidade regulatória e ao crescimento do setor de seguros em ambos os países.
“A recuperação do financiamento no segundo semestre de 2024, juntamente com o contínuo crescimento no número de startups, deixam ver a força do ecossistema e da região, firmemente convencida do potencial da indústria seguradora. Começamos 2025 com novos anúncios de rodadas de financiamento, como os de Sami e Olé Life, indicando que 2025 deve apresentar uma tendência positiva nos números. No entanto, devemos acompanhar a situação global do venture capital e como possíveis oscilações podem impactar a América Latina”, diz Carlos Cendra.
Os maiores investimentos de 2024
Nem todas as rodadas de financiamento são públicas, mas considerando as que são, estes foram os maiores investimentos em 2024:

Gráfico 1: startups insurtech com maior financiamento em 2024. Fonte: Latam Insurtech Journey.
Perspectivas para 2025
Como será o ano para o setor de seguros na região? A recuperação econômica prevista – com um crescimento estimado de 2,1%, segundo o relatório citado da MAPFRE Economics – deve impulsionar a demanda por produtos de seguros e criar um ambiente mais favorável para investimentos em startups do setor.
Se a tendência de aumento no financiamento observada na segunda metade de 2024 se mantiver, 2025 poderá ser um ano crucial para a consolidação de insurtechs com modelos de negócios sólidos. A colaboração entre startups e seguradoras tradicionais continuará se expandindo, enquanto inovações como inteligência artificial e big data desempenharão um papel fundamental na otimização de processos e na personalização de ofertas.
A transformação continua sendo uma prioridade para o setor, e os novos modelos de seguros e de negócio, como os seguros embutidos e o bancassurance 4,0, estão redefinindo a forma como os seguros chegam aos consumidores.
Para Carlos Cendra, “o sandbox brasileiro demonstrou ser um caso de sucesso na regulação flexível, e outros países da região poderiam seguir este caminho para fomentar a inovação. Com uma recuperação econômica moderada e o impulso de novas tecnologias, o ecossistema insurtech da região enfrenta 2025 com um otimismo medido e justificado”.
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