INOVAÇÃO| 30.09.2020
Qual é o principal desafio da inteligência artificial?
Nos últimos anos, a inteligência artificial tem atraído a atenção por suas grandes possibilidades e, acima de tudo, pelo que ela nos oferecerá no futuro. Sua incorporação em setores muito diversos exige cada vez mais especialistas em uma tecnologia que promete mudanças radicais em todas as áreas da vida.
O Fórum Econômico Mundial prevê que nos próximos 3 anos os gastos globais em IA atingirão 52 bilhões de dólares, ao mesmo tempo em que permitirá que as principais economias dupliquem seu crescimento anual nas próximas três décadas.
Nesse cenário, de acordo com Kay Firth-Butterfield, responsável pela inteligência artificial do Fórum Econômico Mundial, “As empresas serão fundamentais para determinar o impacto da IA na sociedade. Entretanto, com base em nossa pesquisa, muitos executivos e investidores ainda não entendem até que ponto a IA poderá ajudá-los e os parâmetros que precisam ser definidos para garantir que o uso da tecnologia seja ético e responsável”. Assim, o órgão criou um guia de aprendizado para ajudá-los, mais um exemplo da importância atribuída a essa tecnologia.
As próximas fases da IA
Essa necessidade de profissionais coincidirá com as novas ondas de aplicativos de IA por vir. Como explica Mark Esposito, professor associado de estratégia da IE Business School e coautor do livro The AI Republic: Building the nexus between humans and intelligent automation (“A República da IA: criando o nexo entre humanos e automação inteligente”, em tradução livre), estamos entrando na segunda onda, em que a IA será usada para tomar decisões melhores, entender as verdadeiras necessidades e desejos dos consumidores, concentrar melhor as ações de marketing e reduzir custos e cargas de trabalho. E isso será alcançado por meio da automação inteligente.
Em seu trabalho o próprio Mark Esposito ressalta que a terceira evolução se concentra no reconhecimento de voz, imagem e vídeo (informações que não foram capturadas até agora serão extraídas e se tornarão dados úteis). Além disso, em relação à próxima etapa na IA, será o momento da inteligência artificial autônoma, cujo exemplo mais claro será a mobilidade autônoma, possibilitada pela capacidade de detectar o ambiente.
Parte da nossa vida
Como pode ser visto, a adoção de tecnologias de IA continuará aumentando forma que se tornará essencial para a operação da própria sociedade. Durante a conferência “Rumo a uma inteligência artificial por e para a sociedade”, Nuria Oliver, doutora em Inteligência Artificial, afirmou que a IA já faz parte de nossa vida e garantiu que causará um impacto mais imprevisível nos próximos anos.
“É praticamente impossível para a sociedade enfrentar os desafios que tem pela frente sem depender das técnicas de IA: obter medicina preventiva e preditiva, educação personalizada e universal, enfrentar o envelhecimento da população, criar modelos mais precisos do clima etc. A IA não é por si só a solução para esses desafios, mas fará parte da solução de muitos deles”, explicou durante a apresentação.
Obviamente, essa especialista alertou para a necessidade de que o talento em IA não seja somente encontrado no setor privado ou esteja concentrado nos Estados Unidos e na Ásia. Ela acredita a Europa deve fazer um investimento para reter os profissionais dessas áreas que estão indo embora, em busca de melhores oportunidades e maiores opções de pesquisa.
Nesse sentido, Alberto Marcos, responsável pelas universidades da Microsoft na Espanha, garante que “a digitalização está dinamizando a economia e promovendo a competitividade dos negócios, além de proporcionar um aumento na criação de emprego especializado”. E acrescenta, “Talvez o mais interessante do impacto da digitalização no mercado de trabalho é que esses novos empregos são criados somente na indústria da tecnologia, mas em empresas de todos os setores, que precisam incorporar talentos especializados com habilidades digitais: gerenciamento de dados, IA, machine learning etc. Os perfis relacionados à tecnologia estão entre os mais difíceis de encontrar e, em um futuro próximo, os mais procurados serão aqueles relacionados a análise de dados, computação em nuvem e desenvolvimento de aplicativos”.
A importância do treinamento especializado
Assim, a demanda por especialistas no campo está abrindo as portas das universidades para novos treinamentos relacionados à IA. Não é de surpreender que, de acordo com um estudo realizado pelo LinkedIn, o primeiro posto em termos de demanda por talentos corresponda a especialistas em inteligência artificial.
Levando em conta essa realidade, na Espanha, encontramos um exemplo de como o treinamento nessa tecnologia está sendo promovido no acordo assinado recentemente pela Microsoft e pela Universidade CEU. Essa entidade de formação incorporou o primeiro grau de IA da Microsoft nas ofertas educacionais das universidades CEU San Pablo (Madri), CEU Cardenal Herrera (Valência) e Abat Oliva CEU (Barcelona).
Conforme declarado pelos signatários do acordo, o objetivo é promover o conhecimento sobre o assunto de maneira eficaz, ou seja, demonstrando como essa tecnologia será impulsionadora do futuro no nível empresarial. Afinal, tão importante quanto ter um amplo treinamento teórico é saber como introduzi-lo em qualquer campo externo.
“Acreditamos que é necessário haver um treinamento de acordo com a era digital. Qualquer carreira, não somente aquelas no campo STEM, precisaria incluir assuntos relacionados à tecnologia e à IA, que definirão o futuro. O uso da IA atinge todos os campo, não somente o tecnológico, portanto, estudantes de qualquer tipo de carreira (Direito, Jornalismo etc., para dar alguns exemplos de carreiras não STEM) precisam de treinamento qualificado em tecnologias como inteligência artificial ou ciência de dados, pois terão de aplicá-la ao seu futuro profissional”, afirmou Alberto Marcos.
O futuro é hoje
Embora para a maioria das pessoas a Inteligência Artificial ainda pareça algo do futuro, a verdade é que os projetos de IA estão presente em nosso dia a dia; o que justifica a importância de ter pessoas preparadas para executá-los.
“As aplicações da IA são infinitas, e da educação à agricultura, qualquer setor pode ser otimizado graças à IA. Esse é provavelmente o aspecto mais inspirador e promissor da revolução digital: as portas que se abrem para que todos possamos prosperar e criar um mundo melhor”, afirma Alberto Marcos.
Da mesma forma, o especialista detalha como a IA deve evoluir: “O escopo dessas soluções deve ser priorizado, definindo o alcance e as necessidades comerciais específicas em cada uma das principais áreas das organizações. Trata-se de escolher as ferramentas e os pontos de entrada certos e pensar no que faz mais sentido do ponto de vista do investimento e da oportunidade. O objetivo não é usar a inteligência artificial em todos os cenários ao mesmo tempo, mas definir onde ela pode ser usada para ajudar uma empresa a crescer e se diferenciar e contribuir para a construção de seus próprios recursos digitais para melhorar sua posição competitiva. O que estamos vendo é que as empresas que apostam mais decisivamente na IA estão liderando seu setor de atividade, aproveitando uma janela de oportunidade que seus concorrentes não estão conseguindo produzir”.
Assim, qualquer empresa que queira evoluir em seu setor deve considerar o uso da IA. Porém, para enfrentar essa onda incontrolável, é são necessários profissionais treinados. E é aí que está o principal desafio da inteligência artificial nos próximos anos.