INOVAÇÃO| 09.06.2023
Carros autônomos, onde fica a segurança viária na corrida pela autonomia total?
A reforma da Lei de Trânsito de março de 2022 incorporou pela primeira vez menções ao carro autônomo, estabelecendo sua regulação como competência estatal. Espera-se que no final de 2023 haja nova legislação e possam circular veículos autônomos de até nível 4. Mas estamos preparados em matéria de segurança viária para isso?
O carro autônomo sem motorista ao volante, ao mais puro estilo de filme de ficção científica, está presente há anos no horizonte, mas sempre foi uma utopia. Ou pelo menos foi até recentemente.
Este “sonho” deixou de ser concebido como tal para se confirmar como uma realidade. Os fabricantes aplicam seu desenvolvimento tecnológico para que seja algo tangível e democratizado o mais rápido possível. Não obstante, ainda há obstáculos a ultrapassar nesta área, assim como em termos de regulação e de segurança viária.
A programação dos algoritmos, um freio
A complexidade de programação de todas as possíveis combinações de fatores que podem ocorrer na vida real durante a direção torna inviável poder lançar um algoritmo de controle 100% confiável com a tecnologia atual.
Pouco a pouco avançamos, nutrindo as bases de dados com dados estruturados e não estruturados, e coletando nos sistemas uma infinidade de variáveis de todos os tipos (meteorologia, diferentes tipologias de pessoas, cores, objetos, etc.) que afetam a direção autônoma. Não obstante, áreas como a ética dos modelos, os preconceitos, a interpretação dos sinais ou a privacidade dos dados, continuam sendo alguns dos desafios mais importantes.
Além disso, a pesquisa neste tema consome grandes quantidades de recursos, tanto econômicos como de equipe ou tempo.
A regulamentação para carros autônomos de até nível 4 chegará em 2023
Os níveis de direção dos veículos autônomos estão programados pelo padrão SAE J3016, desenvolvido pela Sociedade de Engenheiros Automóveis (SAE, sua sigla em inglês). Nesta norma são estabelecidos seis níveis de automatização – de 0 a 5 – focados no grau de intervenção humana durante a condução: veículo sem piloto automático (0); assistência na direção (1); automatização parcial (2); automatização condicional (3); nível de automatização elevado (4); automatização total do veículo (5).
Na Espanha, o atual Regulamento Geral de Circulação (art. 18) diz que o motorista deve ter uma atenção permanente na direção. Além disso, esta norma e a Lei de Trânsito indicam que “o motorista deve estar sempre em condições de controlar seu veículo”. Até o momento, não é possível separar as mãos do volante.
Essa Lei teve uma reformulação em março de 2022 para incluir, pela primeira vez, menções aos carros autônomos. Especificamente, reúne em várias ocasiões a denominação “veículo automatizado”, contempla que sua regulação é competência do Estado e que o titular de um sistema destas características deve comunicar à Gerência Central de Trânsito as capacidades de sua direção autônoma.
No final de 2023, espera-se uma nova reformulação que contemple a circulação de carros autônomos de até nível 4 no país, uma regulamentação que já podemos encontrar em países europeus como a Alemanha. Isso implicará um alto grau de automatização, no qual os sistemas “estão preparados para dirigir de forma autônoma diante de qualquer imprevisto”, sem necessidade de intervenção humana. A pessoa já não é responsável pela direção.
A importância de garantir a segurança viária
Independentemente de como fica a legislação no final deste ano – se finalmente temos novas normas e em que condições, ou se as mudanças de Governo atrasarão o rascunho -, os avanços em matéria de direção autônoma devem andar lado a lado com a segurança viária.
Em qualquer rota, o motorista se encontra com diferentes vias, como ruas de preferência para pedestre, faixas de velocidade reduzida, rodovias, estradas, rotatórias… A isto é preciso somar os elementos habituais (ou imprevistos e acidentais) do ambiente, ver sinais de trânsito, semáforos, freios, buracos, veículos em fila dupla, pessoas… Para que a direção seja efetiva e chegue de um ponto a outro, o carro autônomo deve levar em consideração tudo isso.
Neste sentido, a segurança viária assume especial relevância em dois sentidos: para com os pedestres, é preciso garantir a todo momento que o veículo não causará contratempos e para com o veículo em si, pois é necessário preparar os sistemas para que integrem todas as informações do ambiente em tempo real e oferecer segurança ao fato de que não haja motorista.
“Estudar profundamente a eficácia dos sistemas de ajuda à direção segura (ADAS) e aperfeiçoar as tecnologias de percepção do ambiente que mapeiam o percurso em tempo real são dois fundamentos básicos para garantir a segurança viária. O sucesso e o futuro dos carros autônomos dependem, sem dúvida alguma, disso”, assegura José María Cancer, diretor geral do CESVIMAP, centro de P + D da MAPFRE.
A pesquisa da CESVIMAP sobre carros autônomos
Juntamente com a Universidade Politécnica de Madri, através do INSIA, e a Universidade Carlos III de Madri, através do Laboratório de Sistemas Inteligentes, CESVIMAP projetou e testou uma plataforma autônoma chamada ATLAS (Autonomous Testing Platform for Autonomous Research). Com ela, pesquisa na tecnologia embarcada em veículos autônomos e no impacto que pode representar para a segurança viária e os seguros.
A MAPFRE é a primeira seguradora a construir uma plataforma autônoma de testes para pesquisar nesta tecnologia e quais riscos ela representa. O projeto, no qual a companhia trabalha desde 2018, desenvolveu e testou aspectos como a visão por computador para perceber o ambiente, a capacidade de comunicação vehicle to everything, a interação homem-máquina, etc., bem como a localização e simulação do ambiente em recreações digitais.
Em 2022, a pesquisa deu o salto ao seguinte nível: o primeiro protótipo de carro autônomo realizou um percurso urbano diante das muralhas na cidade de Ávila, culminando com sucesso. Foi premiada internacionalmente com o segundo prêmio da Dubai World Challenge for Self-Driving Transport
Como complemento, a MAPFRE, através de seu laboratório de P + D CESVIMAP, realiza simulação numérica de sinistralidade sob diferentes cenários sobre gêmeos digitais que se comparam com a experiência real. Também são analisados outros veículos, como os robôs de distribuição que circulam de forma totalmente autônoma pelas calçadas das cidades. Estes robôs, embora tenham movimento por si só graças ao nível 4 de sua autonomia, podem ser controlados remotamente por um operador humano para determinados aspectos relacionados com a segurança viária. Um exemplo disso seria ao atravessar a pista por uma faixa de pedestres.
Graças a pesquisas como esta, pode-se colocar o foco na redução de acidentes e da sinistralidade dos carros autônomos. Também, na previsão de custos associados no setor segurador, e em que, chegado o momento, tenhamos seguros de automóveis que correspondam.
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