ECONOMIA| 12.12.2024
A vulnerabilidade dos países emergentes diante da chegada ao poder de Trump
As economias emergentes resistiram em 2024, que foi, a nível global, melhor do que o esperado. No entanto, em janeiro, Donald Trump assumirá a presidência dos Estados Unidos, um fator que pode gerar grandes mudanças em diversos âmbitos, especialmente para países latino-americanos que são particularmente vulneráveis à sua política.
De maneira geral, a tendência deste ano para os países emergentes foi de “uma certa desaceleração”, afirma Eduardo García Castro, economista sênior da MAPFRE Economics. Essa desaceleração foi mais acentuada na América Latina, Europa emergente, Oriente Médio e África (EMEA), em comparação com a Ásia. Contudo, “serviu para acentuar as diferenças regionais e destacar as vulnerabilidades locais”.
Por regiões, na América Latina, Brasil, México e Peru foram os principais motores do desempenho econômico da região, demonstrando uma clara preferência do ponto de vista do investidor. Em contraste, países como Argentina e Colômbia ainda não conseguiram explorar o potencial do aumento do mercado de exportações do Sul global. Na Ásia, destaca-se a desaceleração da China, devido ao afastamento da produção e à diversificação das cadeias de suprimento. Esse processo beneficiou outros mercados da região, como Índia, Indonésia e Vietnã.
Nos países emergentes da área de EMEA, a situação econômica está condicionada pelos conflitos na Ucrânia e no Oriente Médio, o que reduz as possibilidades de uma expansão mais favorável devido ao risco de intensificação das guerras.
Embora o cenário continue relativamente estável, esses países enfrentam dificuldades como um déficit fiscal estrutural, alto endividamento, baixo crescimento econômico sustentado, dependência das matérias-primas e influência de prêmios de risco, como geopolítica ou regulamentação. Por outro lado, seu desempenho relativamente bom tem continuado a ser sustentado pelo ritmo ainda presente no setor de manufaturas, onde a diferença em relação às economias desenvolvidas apresenta um saldo favorável.
Onde os países emergentes podem ser mais afetados?
Nesse contexto, uma política comercial agressiva da próxima administração Trump pode ser extremamente desestabilizadora para os países emergentes. Trump já implementou esse tipo de política em seu mandato anterior e prometeu reativá-la nos próximos quatro anos. Isso pode afetar gravemente as economias emergentes.
O gráfico a seguir mostra o peso que os Estados Unidos têm para o comércio exterior de uma série de países emergentes. O México se destaca pela alta dependência de seu vizinho do norte, o que torna o país particularmente vulnerável a eventuais tarifas. A China também tem nos Estados Unidos seu principal mercado exportador, e o peso relativo de suas exportações para os EUA é muito maior que o de suas importações, o que tem sido um dos grandes pontos de crítica de Trump. Na terceira posição dos mercados mais dependentes dos EUA encontra-se o conjunto de países da América Central e do Sul, uma região na qual, ao contrário da China, o peso das importações supera amplamente o das exportações.
Em matéria comercial, o mais provável é a imposição de tarifas de 60% à China, e de 10% a 20% aos demais países, indicam na MAPFRE Economics. Embora isso possa favorecer os Estados Unidos a curto prazo, “será prejudicial tanto para esse país quanto para o restante do mundo, pois reduzirá o comércio e a atividade global, além de aumentar a pressão sobre a inflação importada”, explica García Castro.
Estima-se que essas medidas possam custar entre 1 e 1,5 pontos base do PIB dos Estados Unidos a longo prazo. Além disso, é provável que os países afetados tomem decisões semelhantes, multiplicando o impacto na economia global.
Além da própria economia americana, um cenário deste tipo deixaria um mundo com menor capacidade de crescimento a longo prazo, maior inflação e a intensificação de alguns desequilíbrios, algo que afetaria especialmente as nações emergentes que passam por dificuldades.
Como detalha Eduardo García Castro, da MAPFRE Economics, uma política comercial protecionista por parte dos EUA “agravaria os movimentos de fluxos de investimento de carteira, junto com possíveis ações tarifárias”, retratando o tão necessário investimento de economias emergentes, ao mesmo tempo que “reescreveria a narrativa de flexibilização da política monetária tanto do Banco Central como de seus pares, com implicações para as divisas e fluxos de capital que têm o potencial de desencadear eventos de risk off e desestabilizar os mercados”.
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