ECONOMIA| 27.11.2024
Da inflação a Trump: o Fórum do Observatório Econômico da MAPFRE e El Confidencial analisa os desafios da Europa
O Observatório Econômico organizado pela MAPFRE e El Confidencial celebrou seu primeiro ano com um Fórum realizado em Madri, que analisou os desafios e tendências que marcarão a economia global e espanhola.
Esta primeira edição do Fórum MAPFRE – El Confidencial contou com a presença de nomes como o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis de Guindos, a ex-ministra de Assuntos Exteriores da Espanha (2020-2021), Arancha González Laya, e o presidente da MAPFRE, Antonio Huertas, além de analistas de alto nível que abordaram temas como o cenário que aguarda a Europa após a vitória de Donald Trump nos EUA e os rumos da política monetária no Velho Continente.
As principais participações foram as seguintes:
O presidente da MAPFRE vê “perspectivas muito positivas” para os seguros
Antonio Huertas, presidente da MAPFRE, abriu o evento reafirmando o compromisso da iniciativa em se tornar “um ator importante dentro do debate público”. Para Huertas, a situação econômica geral “está evoluindo muito bem”, embora incertezas, como as geopolíticas (a guerra na Ucrânia e conflitos no Oriente Médio), possam gerar novas turbulências econômicas.
Neste contexto global, o setor segurador apresenta “perspectivas muito positivas” e, “agora que a inflação está controlada”, segmentos como o de automóveis voltarão a apresentar “resultados muito bons”.
Guindos indica novas reduções nas taxas de juros
Luis de Guindos, vice-presidente do BCE e ex-ministro da Fazenda (2011-2018), destacou que a evolução da inflação é “positiva” e que as previsões do BCE para 2025 indicam uma desaceleração contínua. Após lembrar das três reduções nas taxas de juros realizadas neste ano, Guindos afirmou que “a direção da política monetária está clara: se as projeções se confirmarem, caminharemos para uma redução do nível de restrição”.
Ele também ressaltou que os riscos climáticos “aumentarão devido às mudanças climáticas”, mencionando os recentes danos causados por tempestades no sudeste da Espanha. Ele acredita que a área afetada será reconstruída rapidamente e que seguradoras e bancos “terão um papel importante” nesse processo.
Sobre a vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA, Guindos demonstrou tranquilidade, acreditando que “os elementos fundamentais” da política americana, como os fluxos comerciais e a independência da política monetária do Banco Central, permanecerão.
A relação da Europa com os EUA de Trump
A primeira mesa de debate do evento aprofundou a situação da Europa no cenário pós-eleitoral dos EUA.
Manuel Aguilera, diretor-geral da MAPFRE Economics, opinou que o otimismo dos mercados após a vitória de Trump reflete “apenas a conclusão de uma incerteza de natureza eleitoral”. Aguilera destacou riscos em três cenários: início de tensões comerciais; política fiscal e seu impacto na inflação e no crescimento econômico; e mudanças no terreno geopolítico, especialmente em conflitos como o do Oriente Médio.
Judith Arnal, pesquisadora do Center for European Policy Studies e do Real Instituto Elcano, acredita que, apesar dos temores sobre as decisões econômicas de Trump, “antes de ser político, ele é um homem de negócios” e provavelmente adotará uma postura transacional, sendo as atuais declarações uma “posição inicial de negociação”. A dúvida é: “o que ele pedirá em troca aos europeus?”
José Manuel González Páramo, presidente do European DataWarehouse, mostrou preocupação com o aspecto financeiro, considerando a possibilidade de Trump entrar em confronto com o Banco Central, embora, segundo ele, “provavelmente perderia”. “Haverá barulho, mas espero que não haja consequências significativas”, prevê. Ainda assim, afirmou que o ponto crucial será o rumo da nova Comissão Europeia e se ela buscará alcançar “autonomia estratégica” em um momento “crucial” para a União Europeia.
Europa e sua “falta de peso político” no cenário internacional
Arancha González Laya, decana da Paris School of International Affairs e ex-ministra de Assuntos Exteriores da Espanha, lamentou que a União Europeia careça, em muitos casos, de “peso político” internacional devido às divergências entre seus membros. “Se não formos capazes de exercer influência política em nossa vizinhança, estaremos aumentando os riscos para a Europa”, argumentou.
O rumo da economia espanhola
A última mesa do evento centrou-se em “Perspectivas e Política Econômica”, com foco especial na Espanha. Moderada por Gonzalo de Cadenas-Santiago, subdiretor-geral da MAPFRE Economics, contou com a participação de Íñigo Fernández de Mesa, presidente da Rothschild Espanha; José Manuel Amor, sócio-diretor da AFI; Ángel de la Fuente, diretor executivo da FEDEA (Fundação de Estudos de Economia Aplicada); e Gloria Hernández, conselheira da DIA e ex-diretora-geral do Tesouro Público.
Ángel de la Fuente comentou que as tendências demográficas complicam a sustentabilidade das pensões, preocupando-se “não tanto com o colapso do sistema, mas com os recursos que terão de ser alocados”, em detrimento de outros setores.
Íñigo Fernández de Mesa opinou que a pressão fiscal já é elevada na Espanha e que não há margem para aumentá-la sem prejudicar a atividade econômica. Gloria Hernández reforçou que, em um mercado global “altamente competitivo”, a Espanha deve focar em melhorar sua produtividade para ampliar suas oportunidades.