SEGUROS | 15.06.2020
Seguros inclusivos, uma solução para a proteção dos países em vias de desenvolvimento
No mundo desenvolvido, os cidadãos contam com várias redes de segurança que lhes permitem mitigar o impacto de um evento inesperado, como o que muitos de nós vivenciamos nestes meses. Aos auxílios, subsídios e outras facilidades que o setor público disponibiliza a empresas e particulares, são adicionados os instrumentos fornecidos pela atividade de seguros.
Nos países em desenvolvimento, essas redes de segurança não existem em muitos casos. Uma pessoa que trabalha na economia informal e adoece ou sofre um choque inesperado, é exposta a uma perda de patrimônio e rendimentos que afeta toda sua família e pode ficar condenada a uma situação de pobreza.
Por esse motivo, é importante explicar o papel que o seguro pode desempenhar na inclusão financeira, a fim de obter acesso por parte desses grupos de menores rendimentos da sociedade aos produtos que lhes permitam proteger a vida, a saúde e o patrimônio, através dos processos de poupança e de compensação por perdas implícitas nos produtos de seguros.
Nesse sentido, o seguro é um mecanismo que pode facilitar o processo de mobilidade social, permitindo que indivíduos e famílias possam superar os choques que, ao longo de suas vidas, podem afetar seu patrimônio e a capacidade futura de geração de rendimentos. Sem o apoio do seguro, os progressos individuais ou familiares alcançados podem se perder devido à materialização de determinados eventos adversos. Assim, a possibilidade de acessar produtos e serviços de seguros pode ser a diferença entre os indivíduos ou famílias atingirem o objetivo de mobilidade social ou permanecerem em condições de vulnerabilidade econômica.
É o que é revelado no último relatório sobre Inclusão Financeira em Seguros, que acaba de ser publicado pela MAPFRE Economics, e que fornece uma análise conceitual e de experiência internacional sobre como os microsseguros podem contribuir para o objetivo da inclusão financeira e aumentar as possibilidades de um segmento muito grande da sociedade acessar níveis mais elevados de bem-estar.
O termo “microsseguro” é usado para se referir a seguros destinados a populações de baixos rendimentos, que podem ser incluídos em uma categoria mais ampla denominada de “seguros inclusivos”, que são os seguros destinados a grupos geralmente excluídos ou insuficientemente servidos pelo mercado segurador.
Conforme explicado no documento do serviço de Estudos da MAPFRE, existem dois fatores que influenciaram o desenvolvimento dos microsseguros nos últimos anos. “O primeiro é a vontade por parte dos poderes públicos de estimular seu crescimento como parte do desenho de políticas públicas criadas propositadamente, e o segundo é a tecnologia, que pode facilitar o acesso a um amplo grupo de potenciais segurados (incluindo em áreas rurais) a um custo razoável”.
O uso de plataformas tecnológicas adequadas é essencial para reduzir custos, não apenas na contratação do produto e no pagamento do prêmio, mas também em seu gerenciamento e renovação, e no pagamento das respectivas indenizações.
O produto de microsseguros deve ter um design simples, tanto do ponto de vista jurídico quanto técnico. Do ponto de vista jurídico, a política e suas condições devem ser simples e seu conteúdo deve ser fácil de entender. E de uma perspectiva técnica, deve considerar coberturas simples, somas asseguradas e benefícios claramente definidos.
Os microsseguros deve ser projetados de tal forma que o pagamento das indenizações seja efetuado praticamente de imediato e atendendo a requisitos documentais precisos e mínimos
América Latina, bem posicionada para desenvolver seguros inclusivos
Obviamente, o potencial de desenvolvimento desse tipo de produtos é maior nos países que não possuem um setor financeiro desenvolvido ou produtos sofisticados. Nesse sentido, a América Latina apresenta condições muito elevadas para desenvolver produtos de seguros inclusivos.
O “The Economist Intelligence Unit”, com o apoio, entre outras instituições, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), publica anualmente um relatório com indicadores para avaliar o ambiente da inclusão financeira em mais de cinquenta países, o que se traduz em um índice que leva em consideração cinco aspectos: governança e suporte a políticas; estabilidade e integridade; os produtos e pontos de venda; proteção ao consumidor e infraestrutura.
O relatório de 2019 conclui que o ambiente para a inclusão financeira em todo o mundo está melhorando, com a América Latina sendo a região líder em inclusão financeira em matéria de infraestruturas e regulamentação. Assim, dentro dos cinco primeiros países de sua classificação, existem quatro países latino-americanos (primeiro Colômbia, seguido pelo Peru, Uruguai e México). O quinto lugar vai para a Índia.
Os seguros de vida, os microsseguros mais comuns
Atualmente, os seguros de vida provisórios em caso de morte estão dominando o mercado dos microsseguros. São seguros provisórios em caso de morte do segurado, a fim de proteger seus familiares. Frequentemente, eles são combinados com uma cobertura adicional por morte ou invalidez devido a um acidente e/ou com a cobertura de despesas de funeral, tanto para o tomador do seguro quanto para os familiares designados por ele.
Por fim, como explicam os autores do relatório, “os seguros inclusivos são uma das principais ferramentas para reduzir a Lacuna de Proteção do Seguro (BPS – Brecha de Protección del Seguro) nas economias emergentes, atuando em duas dimensões. Por um lado, em uma perspectiva de curto prazo, aumentam a procura de seguros, incorporando novos segmentos da população no mecanismo de proteção que o seguro representa. Por outro lado, os seguros inclusivos são também um instrumento de educação financeira que permite acompanhar o progresso socioeconômico da população e, com isso, o subsequente aumento da procura de seguros”.