CORPORATIVO| 20.10.2021
“A autoconfiança é um fator muito importante no esporte e na vida em geral”
Maitane Melero (Espanha) – considerada a melhor fundista navarra da história e campeã absoluta da Espanha em 3.000, 5.000 e 10.000 metros – admite que teve dificuldades para conciliar a vida familiar, profissional e conseguir resultados de alto nível. Uma das pessoas que contribuiu para que acreditasse em si mesma e pudesse alcançar o objetivo foi seu treinador, falecido há um ano. Ela o leva na lembrança como um contraforte. Com seu testemunho iniciamos as entrevistas com os protagonistas da nossa campanha “Confiamos em você, e você?” onde, como ela, outros cinco personagens excepcionais alcançaram seus objetivos graças ao apoio incondicional daqueles ao seu redor: suas figuras de confiança.
Engenheira, esportista e sobretudo mãe, o que é para você a confiança e quais foram as principais barreiras que você superou?
Para mim, a confiança é esse sentimento de segurança que você tem quando parece que as situações que você enfrenta são muito difíceis ou muito complicadas de superar, mas você sabe que vão sair bem e que vai poder com elas.
Eu, a confiança fui ganhando ao longo do tempo por vários motivos. Em primeiro lugar, pelas pessoas que me rodearam, já que sempre me deram essa segurança que eu precisava, e acreditaram em mim, e depois, porque vi que fui capaz de superar momentos difíceis acreditando em mim mesma, e sabendo que podia conseguir os objetivos propostos se me esforçava e se acreditava em minhas possibilidades.
Para mim foi complicado poder conciliar a vida familiar, a profissional e conseguir resultados esportivos de alto nível. Também foi muito difícil conseguir esses resultados quando se apresentaram lesões esportivas ou, o que é pior de tudo, quando sofri a perda de entes muito queridos e próximos, como meu treinador.
Você destaca a flexibilidade de seu treinador, Patxi, que outras qualidades dele, unidas às suas próprias, permitiram que você não desistisse nunca?
Se tivesse que destacar algo da forma de ser de Patxi seria sua paciência. Era uma pessoa que me transmitia muita tranquilidade e segurança. Ambos tínhamos uma conexão muito especial e, em grande parte, acredito que era devido à paixão com que vivíamos o esporte.
Podíamos passar horas falando de atletismo e nos motivávamos muito um ao outro pensando em objetivos, projetos ou simplesmente comentando como tinha ido o treinamento. Acredito que nos retroalimentávamos um ao outro de energia positiva. Desfrutávamos tanto com o esporte… Sua paixão pelo atletismo, sua forma de ser tão discreta e sua gestão das emoções e das pessoas fazia com que quisesse seguir correndo apesar das dificuldades, já que correr me enchia de energia, me fazia sentir muito bem.
Além do sacrifício e do espírito de superação, o que a levou da linha de largada com uma vértebra fissurada até a linha de chegada, onde você foi proclamada campeã no último campeonato da Espanha de 10.000 metros?
Essa vértebra eu quebrei brincando em casa com meu filho e acredito que ele foi o motor para eu querer me recuperar o antes possível. Ele viveu comigo todo o processo, da fratura até a vitória no Campeonato da Espanha três semanas depois. Acho que queria mostrar-lhe de alguma maneira que, ainda que as coisas nem sempre saiam como esperamos, temos que nos adaptar às circunstâncias e fazer o melhor para seguir adiante e tentar alcançar os objetivos. Queria mostrar-lhe que é preciso ter uma atitude positiva diante dos imprevistos, ainda que às vezes nos custe, que é preciso esforçar-se e confiar em si mesmo. Isso foi o que me levou principalmente a não me render e a seguir adiante. Durante a corrida eu pensava muito nele, que estava me vendo correr, e isso sempre me dá uma energia extra.
Que valores você quer ensinar para seu filho, que lhe acompanha desde o nascimento em sua imparável carreira?
Muitos, para dizer a verdade; sobretudo, que é mais importante o esforço que o resultado, que se queremos conseguir alguma coisa temos de trabalhar, nos esforçar, e ser constantes, perseverantes. Eu gostaria também de lhe transmitir confiança e que ele confie em si mesmo, já que temos mais potencial do que acreditamos. Que quando surgirem complicações, que tenha uma atitude positiva para poder ver nas dificuldades uma possibilidade de aprendizagem e que isso lhe sirva para o futuro e, evidentemente, outros valores como o respeito, a perseverança, a humildade ou a capacidade de superação…
Em sua opinião, que importância tem a autoconfiança na prática de um esporte e como ele contribui para melhorar a confiança?
A segurança que temos em nós mesmos é fundamental para a consecução de objetivos. Se não acreditamos que podemos conseguir o que nos propomos, se temos dúvidas, já estamos pensando negativamente, e isso dificultará a consecução de nossos objetivos.
A autoconfiança é um fator muito importante no esporte e na vida, em geral. Pôr-nos objetivos reais e alcançá-los pouco a pouco faz crescer a segurança em nós mesmos, incrementando nossa confiança pessoal e a que transmitimos aos que nos rodeiam.