COMPROMISSO| 20.10.2021
O intangível é cada vez mais importante nas empresas. Como seguramos isso?
A digitalização está transformando todas as ordens da atividade econômica, e isso inclui também mudanças no perfil de risco das empresas e da natureza dos ativos que querem proteger de eventos imprevistos.
Isto apresenta oportunidades e desafios para o setor, como explica o último relatório da Associação de Genebra Digital Entrepreneurship and the Supportive Role of Insurance, elaborado por Darren Pain.
Tradicionalmente, uma empresa gerava valor econômico mediante capital físico (estoque, edifícios, maquinaria e equipamentos) e capital humano, os funcionários. Como resultado, o valor dos ativos tangíveis registrados no balanço (menos qualquer passivo reconhecido como dívida) veio proporcionando um guia razoável do patrimônio líquido de uma empresa. Hoje em dia, o valor de uma empresa está muito mais relacionado com os ativos intangíveis (isto é, baseados no conhecimento) como a reputação, o capital humano e a propriedade intelectual, alguns dos quais não estão bem representados nas demonstrações financeiras convencionais.
Apesar de que o auge das grandes empresas tecnológicas personifica a mudança, o fenômeno é mais geral. A grande maioria de empresas industriais, assim como as pequenas e médias empresas, adotaram modelos de negócio digitais. A participação dos investimentos intangíveis nos investimentos comerciais totais dos EUA aumentou substancialmente. Este movimento estava bastante avançado antes da COVID-19, apesar de que a pandemia acelerou a tendência, e a transformação digital agora leva semanas em vez de meses ou anos.
Há ativos intangíveis e há também valores intangíveis, que cobram cada vez maior importância, como a reputação das companhias. “A gestão adequada dos valores intangíveis de uma empresa é um contribuidor líquido de valor ao desenvolvimento do negócio, e isto é especialmente importante na sociedade da informação atual”, explica Eva Piera, diretora geral de Relações Externas e Comunicação da MAPFRE.
Esta transformação da natureza dos ativos das companhias tem repercussões em todos os níveis da atividade econômica, e também, certamente, no papel que pode desempenhar no seguro.
Ao longo da história, os seguros ajudaram as empresas a desenvolver mercados para novos produtos e serviços, e sem dúvida este também é o caso das tecnologias digitais. Já estamos vendo que as apólices de responsabilidade comercial e as coberturas dos seguros cibernéticos e de propriedade intelectual evoluem para adaptar-se a alguns dos riscos intangíveis que enfrentam os empreendedores digitais. No entanto, se as seguradoras vão satisfazer as necessidades dos empreendedores digitais e cobrir as lacunas emergentes na cobertura, deverão melhorar a proposta de valor de suas ofertas, em particular através da inovação de produtos, processos e organizações.
No mundo digital, a indenização dificilmente repara o dano sofrido. No mundo físico também existem as “perdas irreparáveis” (como perder sua casa ou um ser querido), mas a maioria das coberturas vão orientadas a ressarcir o material: se você tem uma goteira, faz-se a reparação; se roubam em seu armazém, você é indenizado; etc. No mundo digital é tudo mais complexo. Uma empresa que sofre um ataque de ransomware e perde todos os seus dados, incluída sua carteira de clientes, poderá cobrir riscos como o custo dos equipamentos, o custo da interrupção de negócio, o custo das possíveis multas pela filtração de dados… mas nada disso devolve a normalidade ao seu negócio.
“Por isso”, explica Joan Cuscó, diretor de Transformação Global da MAPFRE, “se queremos proteger tudo o que é importante para nossos clientes como fazemos no mundo físico, as seguradoras devemos desenvolver uma oferta integral que abranja todo o ciclo da gestão da segurança digital: conscientização, prevenção, atuação, recuperação e ressarcimento, sendo este último talvez o menos importante da cadeia”.
No estudo, o think tank formado pelas principais companhias seguradoras internacionais, entre elas a MAPFRE, explica que essa inovação por parte das companhias seguradoras pode vir de três áreas chave:
- Inovação de produtos: “as coberturas paramétricas podem desempenhar um papel mais importante em situações nas que as perdas estão relacionadas menos com lesões corporais e danos físicos e mais com a falta de acesso ou o baixo rendimento dos produtos / serviços”.
- Inovação de processos: a assinatura automatizada e a distribuição otimizada, mesmo mediante a associação com ambientes Insurtechs, facilitará uma cobertura flexível e personalizável para as empresas digitais.
- Inovação organizacional: a reconfiguração de seus negócios para adotar estratégias API permitirá às seguradoras conectar-se com plataformas digitais e recompilar informação relevante para o negócio.
Isto revelará oportunidades significativas para criar modelos de medição de riscos altamente granulares e realizar novas propostas de seguros que sejam atrativas para os empreendedores digitais.